domingo, 28 de junho de 2009

Golpe estatutário no Benfica

A demissão dos órgãos Sociais do Benfica a pedido de Luis Filipe Vieira e a marcação de eleições antecipadas para 3 de Julho, foi um insidioso golpe estatutário, não dando tempo para que outros candidatos possam apresentar novos projectos aos sócios. A ladainha de Luis Filipe Vieira de que salvou o clube da banca rota, restituiu a credibilidade da instituição, blá, blá, blá..., além de falaciosa, só se percebe vindo de alguém que está agarrando à cadeira do poder com a mesma gula que um urso se abarca dum pote de mel. O mandado de LFP acabava em Outubro, altura em que José Veiga faria cinco anos de sócio e, perante os estatutos do clube, poderia apresentar-se aos sócios como candidato e disputar a presidência do Benfica.

Como se percebe que LFP se demita juntamente com os órgãos sociais para antecipar as eleições?
Como se percebe que após a sua demissão substitua a equipa técnica de futebol – despedindo Quique Flores e contratando Jorge Jesus – e, continue a contratar jogadores estando em gestão corrente?
Como se percebe que LFP acabe de assinar um contrato de patrocínio com a Sagres para os próximos 12 anos a uma semana das eleições?
Como se percebe a instrumentalização que fez do Rui Costa dando-lhe um cargo para o qual não tem preparação?

À semelhança de Pinto da Costa, LFP não olha a meios para atingir os seus fins, mas enquanto o primeiro defende os interesses do F.C Porto o segundo está empenhadíssimo em condicionar e banir outras candidaturas em benefício próprio. Mas atenção: o prenúncio da candidatura de José Eduardo Moniz funcionou como uma guilhotina para LFM, agora, mais do que nunca, sabe perfeitamente que há alguém à altura de assumir os destinos do Benfica e, uma personalidade capaz de mobilizar a massa associativa e os sócios.

Nota: o Benfica pode porventura fazer uma boa época, pois, o Jorge Jesus é um óptimo treinador, ambicioso, determinado, confiante e um conhecedor profundo do futebol português. O Benfica tem sido o clube português que mais tem crucificado os treinadores, por isso, é curioso a singularidade de LFP estar refém de Jesus.

Cui spes omnis pendet ex fortuna, huic nihil potest esse certi [Cícero] – Para quem toda esperança depende da sorte, nada pode haver de certo.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Eleições Europeias 2009

Nas últimas Eleições Europeias o grande derrotado não foi unicamente o Partido Socialista de José Sócrates, foi a própria Democracia. A abstenção ultrapassou os 63% e, com isso, todos os partidos políticos foram fortemente penalizados pela descrença dos cidadãos. Causa-me por isso alguma estranheza que os líderes partidários tenham ignorado o divórcio dos Portugueses com a política, que não se tenham referido ao elevado número de abstencionistas. Cada líder fez a sua análise, aquela que melhor favorecesse o seu partido.

Os Portugueses não se interessam pela Europa, as politicas de Bruxelas dizem pouco aos nossos cidadãos, dizem alguns opinion makers. Não me convenço com esta explicação. Um terço da legislação Portuguesa vem de Bruxelas, mas a verdade, é que nesta campanha eleitoral os partidos alhearam-se de falar sobre a Europa. A oposição preocupou-se em atacar as políticas do Governo – que nada tem a ver com as Eleições Europeias – e observar o jurista Paulo Rangel no discurso da vitória referir que o Governo perdeu a legitimidade de governar, é duma parolice e dum provincianismo que revela bem o carácter da nossa classe política. Por outro lado, o Governo escudou-se sequer a debater ideias – se é que as tinha – com os seus adversários.

Não são os Portugueses que estão longe da Europa e de Bruxelas, são os políticos acanhados de ideias, órfãos de matriz ideológica que afastam os Portugueses da política. Após o 25 de Abril, Portugal tinha líderes com ideias fortes – Álvaro Cunhal, Mário Soares, Sá Carneiro e Freitas do Amaral –, com projectos diferenciados, em que o cidadão poderia escolher um rumo para o país.
Repare meu caro Leitor: quando os partidos se demitem de pensar e debater ideias, o que motiva o cidadão a votar? Quando a palavra é substituída pelo palavreado, que esclarecimento pode ter o cidadão? Quando os partidos se revezam na calúnia, na injúria e na demagogia, que confiança pode ter o cidadão?

Os partidos têm o imperativo moral de falar a verdade aos Portugueses, enquanto isso não acontecer, haverá sempre um divórcio latente entre o cidadão e a politica.

Vitiorum emendatricem legem esse oportet, commendatricemque virtutum [Cícero] – A lei tem de corrigir os vícios e valorizar as virtudes.