sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O clássico

Durante esta semana observei um consenso generalizado na opinião pública do mundo futebolístico, da importância que reveste o clássico de amanhã na carreira desportiva do Sporting esta época. Este clássico para o Sporting é o «tudo ou nada». O futuro desta época depende deste jogo.
Ora, será mesmo assim?
Penso que não. O Sporting iniciou a época a praticar um futebol deplorável, exibições escassas de competitividade, apáticas e, a agravar tudo isto, com resultados desportivos desastrosos. À distância de onze pontos de Benfica e Braga, e a seis do Porto, parece evidente que uma vitória dos leões é absolutamente crucial, as opiniões têm sido unânimes. Todavia, o adepto do Sporting não se ilude com esta época, não tem grandes expectativas; para o aficionado a equipa bateu no fundo, pior é impossível. Por isso, Carlos Carvalhal está livre da pressão do clássico de amanhã, se ganhar, reconcilia os associados com a equipa, se perder, terá muito tempo para mostrar um bom trabalho, e parece-me que vai fazê-lo com competência.
Ao contrário do que se tem dito, o Benfica tem mais a perder que o Sporting. Começou muito bem a época, joga um futebol atractivo, joga um futebol bonito, bem desenhado, emotivo, empolga o adepto e simpatizante e, ainda por cima, com um ímpeto de concretização absolutamente impressionante, marca golos que se farta, impondo goleadas históricas – como a do Everton para a Liga Europa. Mas, nos últimos jogos o Benfica tem sofrido alguns revezes, como a derrota em Braga, a vitória sofrida contra a Naval e a eliminação da taça de Portugal, no Estádio da Luz perante o Vitória de Guimarães.
Uma derrota do Benfica em Alvalade, abalará a confiança da equipa e põe a descoberto as suas fragilidades – que as tem – e, coloca em causa todo o edifício do futebol benfiquista, ante um Sporting pretensamente esfrangalhado.
Portanto, o Sporting, para este clássico nada tem a perder, a não ser a despeito de perder um jogo contra o eterno rival; já o Benfica… tem a «carne toda no assador».
PS1 – A iniciativa do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, em juntar o presidente do Sport Lisboa e Benfica, Luis Filipe Vieira e o Presidente do Sporting Clube de Portugal, José Eduardo Bettencourt para promover o uso de transportes públicos, e apelar ao Fair-Play, é um exemplo a seguir, e um acto de urbanidade na promoção do espectáculo, nomeadamente o futebol.
PS2 – Força Benfica!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Falácia da abertura do casamento homossexual

Durante alguns anos tive uma presença muito assídua na cidade de Setúbal, uma cidade de fascínio peculiar, situada no encrave entre a Serra da Arrábida e a Península de Tróia. Tem óptimos restaurantes, praias maravilhosas, bons bares e discotecas, como o «Seagull», infelizmente desaparecida, um das melhores do país dos anos 80 e meados de 90, localizada em plena Serra da Arrábida com uma magnífica açoteia sobre o mar, simplesmente deslumbrante. Não é difícil gostar de Setúbal e da paisagem natural que a envolve. Dado a sua proximidade à cidade de Lisboa, Setúbal foi sempre uma espécie de tebaida às gentes vindas de outras paragens, nomeadamente da Grande Lisboa, Sul do Sado e alguns estudantes universitários.
O meu primo Hugo, foi durante vários anos o barman-Mor do Bar - Discoteca «Conventual», um antigo convento lindíssimo transformado em bar e discoteca, junto à avenida Luísa Todi, a principal artéria da cidade. E foi ele o principal responsável pela minha presença tão acentuada na cidade ao longo de vários anos.
Como o «Conventual» fechava habitualmente às 04:00h, funcionava como um ponto de encontro de clientes vindos de toda a parte, clientes seleccionados pelo meu queridíssimo e saudoso amigo Fernando – um abraço eterno para ti amigo –, alturas houve, em que a maioria dessas pessoas tinha uma orientação sexual diferente da minha, eram gays e lésbicas, decorria o ano de 1997.
Claro que fiz amizades com algumas dessas pessoas, participei em inúmeros eventos sociais durante vários anos. Os mais chegados desabafavam comigo os seus dramas pessoais do dia-a-dia: ocultavam o que sentiam, o que gostavam, despojavam a sua própria identidade para escapar à sentença moral e ao dedo inquisitório da sociedade. Se houver algum ser humano no meu país, em que lhe seja sonegado algum direito com base na orientação sexual, estarei incondicionalmente a seu lado, e lutarei para que tenha acesso a esse mesmo direito. Acontece porém, que a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo nada tem a ver com igualdade de direitos, aliás, muitas lésbicas e homossexuais não estão de acordo com a alteração da legislação sobre o casamento.
Em Portugal esta contenda tem sido colocada de forma falaciosa: a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, não deve ter como propósito o acolhimento da homossexualidade ou, um combate contra a homofobia. A homossexualidade é tão antiga como a humanidade, na Antiga Grécia, as prostitutas eram senhoras ilustres, e não havia nenhum juízo moral contra a homossexualidade mas, nem por isso, se legalizou o casamento. Há um radicalismo perigoso que ignora a história da Humanidade. Para alguns “iluminados” tudo que nos foi legado deve ser proscrito, posto em causa como se a Humanidade principiasse com a nossa existência e não o contrário; a Humanidade vai muito além das convenções, ideologias, legislações, regimes políticos, religiões, aforismos e atavismos.
O casamento é uma construção social natural e não algo que flutue ao sabor de quem legisla. Por isso mesmo, em França, o Governo socialista de Lionel Jospin decidiu em 1999 introduzir o Pacto Civil de Solidariedade. Este pacto estipula que quaisquer duas pessoas, independentemente do sexo, podem estabelecer um pacto de união (desde que o registem na conservatória) que lhes confere todas as garantias do casamento, excepto a de adopção de filhos Semelhante à Lei 7/2001, que consagra na nossa ordem jurídica a União de Facto alargada a relações entre pessoas do mesmo sexo.
É juridicamente injustificável discriminar positivamente a união homossexual no momento de alargar as fronteiras do casamento, face a outras possibilidades lógicas de união não autorizadas na lei. A justificação para a proibição de incesto é a eventualidade de dele resultar uma descendência genética anómala. Já a premissa monogâmica assenta numa justificação cultural e não biológica. A poligamia no Ocidente carece de legislação por não ser suportada por cânones religiosos, ao contrário da lei islâmica, e exprime uma inadmissível assimetria entre homens e mulheres.
Os defensores do casamento gay deverão, em nome do princípio da igualdade dos direitos, defender toda a união incestuosa de que não resulte uma descendência geneticamente enfraquecida e toda a união poligâmica ou poliamorosa, que não promova assimetria entre sexos.
Legalizar o casamento gay implica negar a exclusividade do casamento tradicional tal como existe, isto é, uma união entre duas pessoas de sexos opostos e sem laços consanguíneos. Ora, se a legalização for aprovada, equiparando aquela união a esta, será logicamente forçado a não distinguir entre o direito de dois indivíduos do mesmo sexo, não aparentados entre si, a casar e adoptar filhos, e o direito de três indivíduos consanguíneos e do mesmo sexo à união matrimonial e à adopção. A legalização do casamento homossexual exige, portanto, a regulamentação ao extremo como é apanágio das ideologias radicais, nomeadamente, o casamento homossexual incestuoso poligâmico.
Se colocarmos em causa um dos critérios da definição de casamento (união entre sexos opostos), então que justificação lógica haverá para não descartar os outros dois – união de dois indivíduos, não consanguíneos?
O alargamento das fronteiras do casamento resultará, inexoravelmente na sua abolição, e o mais curioso, é pensar-se que isto significa um progresso e não um retrocesso civilizacional.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Saída de Paulo Bento do Sporting

Ao longo dos últimos três anos tenho criticado o desempenho de Paulo Bento como treinador principal da equipa sénior do Sporting. Ao contrário do que muitos afirmam, creio que foi manifestamente incompetente, teimoso e por vezes mesquinho na forma como lidou com alguns jogadores, muitos têm metade da sua idade, no entanto, Paulo Bento comportou-se como se tivesse metade da idade dos garotos. Em vez de adoptar uma pedagogia assertiva e construtiva de forma a ajudá-los a crescer como homens e jogadores, valorizando assim os activos do Sporting; nalguns casos fez exactamente o contrário, teve atitudes verdadeiramente lamentáveis, alimentou o orgulho, bafejou o ego em prejuízo dos interesses do clube, delapidando activos da equipa principal. Com um relacionamento difícil, uma táctica previsível e imutável, aliado à obstinação em alterar fosse o que fosse, causa surpresa o tempo que se manteve à frente do Sporting. Olhando para todos os treinadores da superliga, qualquer um deles faria de longe, muito melhor que Paulo Bento, e se vier a treinar em Portugal e na Superliga, tenho dúvidas do seu sucesso, porque simplesmente não tem capacidade para treinar competentemente uma equipa de futebol sénior do principal escalão nacional ou estrangeiro.

Há duas questões que têm sido colocadas na opinião pública desde o inicio da presente temporada: o treinador do Sporting é competente mas não tem jogadores à altura de envergar a camisola do Sporting; ou o Sporting tem bons jogadores e o treinador não está à altura de pô-los a jogar um futebol atractivo, de ataque, que posso almejar as tão desejadas vitórias.

Sou da opinião que o Sporting tem muitos e bons jogadores, quase todos são internacionais pelos seus países. É da competência do treinador extrair a qualidade de cada jogador em prol da equipa. Para isso trabalha-se diariamente e, parece-me que Paulo Bento trabalha a trouxe-mouxe durante a semana, pois, a equipa não tem fio de jogo, os jogadores por vezes ocupam os mesmos espaços atrapalhando-se mutuamente.

Paulo Bento beneficiou – e bem – duma conjuntura que lhe foi invulgarmente favorável: ascendeu à liderança da equipa principal por estar no sítio certo à hora certa; beneficiou do desvario do Benfica nas últimas épocas; aproveitou a orfandade do Braga desde a saída do Jesualdo Ferreira; o segundo lugar era suficiente para entrar directamente na Liga dos Campeões. Ora, este quadro global alterou-se radicalmente: o Braga renasceu com Domingos Paciência, aproveitando bem o trabalho feito da época passada preconizado por Jorge Jesus; este acordou o Gigante Adormecido Benfica, que esta temporada vem jogando um futebol de grande qualidade, espalhando magia e espectáculo coroado com goleadas atrás de goleadas; o segundo lugar não carimba o passaporte para a Liga dos Campeões, portanto, as dificuldades aumentaram sobejamente. Por isso, apesar das pouquíssimas mexidas do Sporting em relação aos outros rivais, não me surpreendeu as paupérrimas exibições na decorrente época. Aliás, tem sido assim nos últimos anos.

É preciso ter memória: mesmo com alguns bons resultados que não se pode olvidar, o Sporting jogou quase sempre um péssimo futebol, demasiadas vezes em esforço, sofrível, sem chama nem alegria, sem magia nem encanto, facto aliás, que Paulo Bento sempre admitiu ao longo das épocas, mas nunca conseguiu alterar o rumo dos acontecimentos. A minha critica a Paulo Benta apenas diz respeito ao âmbito das suas competências, nada mais.

Não tenho dúvidas que seja um profissional exemplar, esforçado, dedicado, e que deu o melhor à equipa e ao Sporting, apesar do seu narcisismo em relação aos jogadores. O adágio popular diz: «quem dá o que tem a mais não é obrigado». Uma laranjeira só pode dar laranjas, uma macieira só pode dar maçãs, é da sua natureza, não se pode exigir mais. Não é legitimo pedir a uma laranjeira que dê maçãs, assim como, também não é legitimo pedir a Paulo Bento que ponha a equipa a produzir futebol de qualidade; ele faz o que pode e sabe, assim sendo, o Sporting só pode jogar da forma a que nos habituou – a antítese do espectáculo.

No entanto, é absolutamente lamentável a forma como os adeptos se manifestaram e insultaram o treinador após um jogo das competições europeias – em que praticamente está qualificado. É bom lembrar a esses adeptos e muitos sócios que José Eduardo Bettencourt alcançou 90% dos votos e Paulo Bento foi a sua bandeira eleitoral, portanto, o treinador foi sufragado por larguíssima maioria no reino do leão.

Mas, o treinador não é o principal problema, foi antes uma consequência de uma direcção negligente e uma administração totalmente incapaz. José Eduardo Bettencourt comporta-se como simples adepto, não assume a responsabilidade de presidente de uma grande instituição como é de facto o Sporting. A conferência de impressa sobre a despedida de Paulo Bento foi risível.

O Sporting transformou-se numa coutada gerida por aristocratas pseudo-intelectuais que vivem na manjedoura do clube e, que tanto, mas tanto dano lhe tem causado, e isso, não é culpa de Paulo Bento.

Nota: o Sporting volta a ser candidato ao título nacional.