terça-feira, 13 de julho de 2010

Já só digo aquilo que sinto

Esta primeira frase deve chegar ao meu leitor um pouco desconchavada, admito que sim. Na verdade não estou em condições de escrever seja o que for.
Hoje é um dia particularmente infausto para mim, na verdade acaba de embarcar para a viagem do infinito um grande amigo. Uma pessoa que muito admirava – e admiro -, sempre de bem com a vida. Tínhamos uma relação muito cúmplice, por vezes dispensávamos o palavreado para nos comunicarmos, bastava um simples olhar cúmplice, e a sua partida deixa uma marca indelével na minha alma.
Sempre que estávamos juntos dizia-me com um sorriso rasgado: “já só digo aquilo que sinto”, que não é o mesmo que “já só sinto aquilo que digo”. Esta simples disposição gramática era um bom mote para duas ou três horas de conversa. Íamos da epistemologia da palavra, passando pela filosofia, trocávamos impressões sobre as ideias políticas, abríamos a porta grega e trocávamos umas impressões em Latim e, acabávamos quase invariavelmente na religião. Fazíamos um périplo sobre as ideias da Humanidade e da condição humana, apesar de haver muitos pontos em que divergíamos, era sem dúvida aquilo que concordávamos que nos unia, e já sinto a alma trémula de saudade.
Este meu enorme amigo funcionava quase como um mentor, tínhamos uma relação de professor/aluno, mestre/discípulo, sabedoria/aprendiz.
Resta-me o consolo de saber que teve uma boa vida e que foi feliz, tinha um enorme orgulho justificado no seu filho Ricardo Velosa, também ele um grande amigo em que endereço desde já um abraço do tamanho do mundo, e que estou aqui para o que der e vier.

Um grande beijo e abraço de amizade para o meu amigo Alberto Velosa.
Um descanso eterno.

PS – haverá temas sem fim, para discutirmos na eternidade…

Re fruere ut natus mortalis; dilige sed rem tamquam immortalis [Stevenson 1832]. Goza dos teus bens como mortal, mas ama-os como se fosses imortal.