Esta semana quando todos esperavam que Vítor Gaspar comunicasse cortes na despesa da máquina do Estado, ele anuncia mais agravamentos fiscais para os escalões de IRS mais elevados, e claro, as críticas fizeram-se sentir de forma impiedosa.
Portugal pediu ajuda externa porque foi incapaz de se governar e não tomou as medidas que deviam ter sido tomadas.
Recusou a crise até ao limite do intolerável e deu no que deu. Agora, há que reverter todo o paradigma económico e social do país para não onerar ainda mais as gerações vindouras. É imperioso reverter a tendência do aumento do deficit e conquistar a credibilidade dos credores e, acima de tudo, inverter este quadro de descrença, amorfo e de tristeza nacional; custe o que custar, goste-se ou não se goste, não há volta a dar. É como uma família que tenha um rendimento de 2500€ e gaste mensalmente 3000€, mais cedo ou mais tarde não terá capacidade para poder honrar os seus compromissos. Portanto, ou reduz a despesa ou aumenta o seu rendimento, é esta a realidade dos números.
Nos próximos meses vai haver manifestações de rua, a pressão sobre este Governo vai fazer intensificar-se e o Partido Comunista mobilizará milhares de pessoas nas ruas. Portanto, Pedro Passos Coelho e Vítor Gaspar vão passar pela provação da ira dos manifestantes.
O pior que este Governo poderá fazer é recuar perante a rua, é capitular o seu programa perante o descontentamento das massas. Até porque, manifestações com trinta, quarenta, sessenta ou cem mil manifestantes não são a larga maioria dos Portugueses. É um enorme equívoco pensar-se que os mais acérrimos descontentes representam a vontade popular ou que falam em nome do povo português.
Portugal vive hoje uma situação única para poder “mudar de vida”. Este Governo pode – e deve – implementar um choque liberal capaz de sacudir o mosquedo da manjedoura dos recursos do Estado.
Os Portugueses só viverão melhor se Portugal crescer economicamente. Para isso temos de criar condições de atrair capital estrangeiro, é necessário um grande investimento da parte do Estado em sectores que possam substituir importações, nomeadamente a agricultura e as pescas; e acima de tudo, uma classe empreendedora disposta a assumir riscos, e isso só será possível com a credibilização das instituições do Estado e da Administração Pública.
Os Portugueses não devem recear esse choque liberal, devem antes, recear a falta dele e o marasmo e a inércia em que o país se encontra.
Este Governo apresentou-se às eleições com um conjunto de propostas de cariz liberal e o povo confiou-lhe o poder para implementar esse programa.
Claro que estas medidas são apenas uma parte da moeda. Pois será absolutamente necessário que este Governo reduza a despesa corrente do Estado. E estou sinceramente convencido que vai fazê-lo de forma pensada e equitativa. Pedro Passos Coelho rodeou-se de pessoas competentes, desapegadas do poder, pessoas de sucesso nas mais diversas profissões; rodeou-se de pessoas que pouco têm a ganhar com a vida política.
Depois do 25 de Abril PS e PSD alternaram o poder. Ora, Portugal precisa que os partidos do arco do poder apresentem programas diferentes e verdadeiramente alternativos, que valha a pena escolher um ou outro, que não sejam iguais. Por isso disse à pouco que Portugal vive hoje uma situação única para poder “mudar de vida”.
Cui spes omnis pendet ex fortuna, huic nihil potest esse certi [Cícero] – Para quem toda esperança depende da sorte nada pode haver de certo.