quinta-feira, 23 de abril de 2015

As Novas Igrejas

Diariamente, somos invadidos através dos canais de informação com programas sobre futebol. Todos os dias, há pelo menos um programa deste género, e chega haver três em simultâneo, e por vezes, quando há jogos a meio da semana ou da Liga dos Campeões ainda há programas especiais que versam sobre o mesmo tema - Futebol.
O formato é semelhante em quase todos eles. Um jornalista moderador e três personagens públicas a defender o seu clube: ora do Benfica, do Porto ou do Sporting.
Este tipo de programas não é recente, existem há vários anos, lembro-me que nos finais dos anos 90 havia um moderado por David Borges em que os comentadores chegaram a vias de fato.

A desonestidade intelectual é gritante. É certo que cada um vê com olhos que tem, mas não deixa de ser impressionante que figuras tão inteligentes consigam ver o que as imagens não mostram, e refutam ou afirmam com as suas retóricas barrocas o que as imagens desmentem.

O fervor com que estas figuras públicas defendem os seus clubes trespassa a razoabilidade e o discernimento, parecem que ficam possuídas pelo diabo.
O que me impressiona ainda mais, é que os comentadores que são figuras públicas e com cargos relevantes na sociedade portuguesa (juízes, advogados, médicos, músicos, deputados, etc.) fazendo por isso, parte dos quadros mentais deste país se exponham de forma tão leviana e grotesca.

O que faz com que estes programas tenham audiências enormes e quase sempre não dizem nada de relevante?
E o que dizer das redes sociais, nomeadamente o facebook em que é uma banalidade os amigos estarem desavindos por causa do futebol?

Pessoas que se insultam por pertencerem a clubes adversários com um ódio e escárnio fanático, obsessivo e doentio e, que o objetivo é atingirem o outro sem nenhum respeito!

Este fanatismo, julgo que tem similitudes com a religião. O futebol contemporâneo veio ocupar um espaço deixado outrora pela religião.
Há uns anos atrás nos meios mais pequenos; o rico e o pobre, o magro e o gordo, o bonito e o feio, encontravam-se ao domingo na Igreja; havia um sentimento de pertença independentemente da sua condição social ou étnica. Ora, atualmente, os estádios de futebol funcionam um pouco como Igrejas, onde as pessoas encontram um elo de ligação entre si (amor clubístico), independentemente das suas idiossincrasias. Tal como antes, o rico e o pobre, o magro e o gordo, o bonito e o feio, encontram-se no mesmo plano de igualdade, com o forte sentimento comungado pelo amor a um clube.

PS - Em vésperas de um Benfica – Porto, absolutamente decisivo para o próximo campeão nacional 2014/2015, desejo muita alegria a todos os adeptos de futebol, e que deixem de lado a religião e o fanatismo… Quando o fanatismo e o resultado se juntam… é o Diabo quem dita a sentença…

Severitas assidua amittit auctoritatem – A severidade constante perde a autoridade.

                                                                       Sintra, 24 de Abril de 2015

                                                                                  José M. T. Gomes