«Na antiga China havia
um miúdo duma aldeia remota muito pobre que tinha um sonho. O sonho do rapaz
era ter um cavalo. Um dia pernoitaram na aldeia, um conjunto de guerrilheiros,
entre eles havia um potro que não conseguia acompanhar a marcha. O chefe da
guerrilha ao saber do sonho do miúdo foi ter com ele e deu-lhe o potro,
realizando o sonho do rapaz e ao mesmo tempo livrando-se dum estorvo.
Um vizinho ao tomar
conhecimento do ocorrido foi ter com o pai do garoto e disse-lhe: “O teu filho
tem cá uma sorte!”
“Ora essa! Porquê?”,
perguntou o pai.
“Ora, o sonho do teu
filho era um cavalo, e então não é que lhe ofereceram um potrinho. Isto não é
sorte?”
“Pode ser sorte ou
pode ser azar!”, comentou o pai.
Certo dia o cavalo foge.
O vizinho sabendo da notícia foi ter com o pai do garoto: “O teu filho é de
azar”
“Por quê?”, perguntou
o pai.
“Então, o teu filho
queria um cavalo e ganhou um potrinho. Agora o animal que tanto gostava fugiu.
Não é azar?”
“Pode ser sorte ou
pode ser azar!”, comentou o pai.
O tempo foi passando
até que um dia o cavalo volta à aldeia com uma manada selvagem. O menino, agora
um rapaz, consegue cercá-los e fica com todos eles. Observa o vizinho: “o teu
filho é mesmo de sorte! Ganha um potrinho, cria, ele foge e agora volta com um
bando de cavalos selvagens.”
“Pode ser sorte ou
pode ser azar!”, respondeu novamente o pai.
Certo dia, o rapaz
estava a treinar um dos cavalos quando caiu e partiu uma perna. Vem novamente o
vizinho: “ o teu filho está mesmo enguiçado não há dúvida! O cavalo foge, volta
com uma manada selvagem, o rapaz parte uma perna a treinar um deles, puxa!”
“Pode ser sorte ou
azar” insiste o pai.
Passados alguns dias o
reino onde moravam declara guerra ao reino vizinho. Todos os jovens são convocados
para a guerra menos o rapaz que estava com a perna partida. O vizinho, “o teu
filho é mesmo afortunado...”»
É um conto chinês muito antigo, mas a vida é mesmo assim,
tudo o que nos acontece pode ser sorte ou azar. Depende do nosso ponto de vista
e do caminho que trilhamos na vida. O que parece um azar num momento, pode ser
sorte noutro, o que agora parece ser um infortúnio pode ser ditoso no futuro,
talvez seja por isso que não consigo deixar de ser um indefetível otimista.
Sintra,
03 de Junho de 2016
José
M. T. Gomes
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