quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Pedro Emanuel no Porto!

Escrevi neste espaço que o F.C Porto de André Villas-Boas podia ser um candidato a vencer a próxima Liga dos Campeões com o mesmo nível competitivo da época anterior, assegurando os melhores jogadores.
Ainda mantenho essa convicção.
Todavia, a saída de André Vilas Boas para o Chelsea foi claramente um revés no que se adivinhava ser mais uma época de glória para os Dragões.
Pinto da Costa jamais equacionou perder o seu treinador a uma semana de começar oficialmente a nova temporada. O desejo de Villas-Boas e a cláusula de rescisão milionária foram insuficientes para mantê-lo ao serviço do clube. As libras e a vontade do técnico driblaram e manietaram os responsáveis do F.C. Porto, ainda assim, significou um encaixe financeiro que nenhum outro clube do mundo jamais recebera por um treinador.
A promoção do adjunto Vítor Pereira a treinador principal e o valor da cláusula de rescisão foram recebidos com surpresa e desconfiança.
E isto aflora dois aspectos que gostaria de expor: quando os números dois passam a número um e a ideia de que treinar o F.C. Porto é uma tarefa facilitada pelo apoio da estrutura e, portanto, qualquer treinador tem sucesso.
Ora, salvo raras excepções, a promoção de um número dois a número um numa equipa, numa empresa, etc. pode ser perniciosa. Ou é alguém com inegáveis qualidades de liderança – manifestamente não se aplica a Vítor Pereira – ou seguramente será sempre encarado pelos subordinados como adjunto e nunca como um verdadeiro líder e, por isso, raramente consegue impor a sua autoridade e respeito da equipa. Pinto da Costa não dá ponto sem nó e sabia os riscos que corria. A inusitada cláusula de rescisão foi um golpe de teatro para não passar a ideia que estaria a prazo.
Vítor Pereira é a prova cabal que treinar o F.C. Porto não garante sucesso. É imprescindível ser-se competente em diversos domínios (técnico, táctico, motivacional, liderança, gestão de recursos, gestão de expectativas e frustrações, etc.), acresce ainda, a dificuldade de lidar com “miúdos” ricos e imaturos, particularmente no futebol de altíssima competição. Mesmo com sobressaltos de resultados, a equipa está na liderança do campeonato e ainda pode passar a fase de grupos da liga dos Campeões.
O F.C. Porto é um Case Study na mestria de recrutamento, promoção e valorização de jogadores e treinadores, sendo o clube que mais e melhor vende na Europa, encaixou perto de 500 milhões de Euros nos últimos oito anos, é obra! Portanto, não vejo como possa ser possível este clube cometer erros tão primários, e de facto, não os cometeu.
Quando Villas-Boas deixou o clube pensei que Pedro Emanuel seria a melhor escolha para o substituir, mas o timing não era o melhor. Se tivesse no lugar de Pinto da Costa teria feito exactamente o mesmo: apostando por um lado na continuidade sem grandes rupturas nem sobressaltos; mesmo sabendo os riscos que a promoção de um adjunto a principal acarreta. E dando espaço por outro a Pedro Emanuel de crescer como técnico principal formando e liderando a sua própria equipa para poder ganhar mais calo e preparar um regresso desejado. O bom trabalho em Coimbra causa perplexidade apenas para os distraídos.
Posto isto, antevejo um regresso de Pedro Emanuel, para a próxima época ou mesmo na reabertura do mercado.

PS- Boa sorte ao F.C. Porto para logo à noite. Somente uma vitória pode manter ainda a chama acesa para a próxima fase Liga dos Campeões.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Portugal: Passado e Futuro

Com o aparecimento e fortalecimento da economia de novos países emergentes como Brasil, China, Índia, Japão e alguns países africanos impeliram a Europa e os EUA para uma crise que há muito não se vivia desde a Segunda Guerra Mundial.
Portugal, sendo uma país periférico inevitavelmente teria de sentir as consequências da crise europeia e americana ao contrário do que fora previsto nos últimos anos por “lunáticos irresponsáveis” que foram perdendo aderência à realidade.
É chocante a descrença anunciada nos debates televisivos, nos telejornais e na imprensa generalizada sobre o futuro dos portugueses e a insistência na cantilena daquilo que chamo “apocalipse social e civilizacional”.
E o que dizer dos que vilipendiam diariamente a Troika como se fosse a causa de todos os infortúnios de Portugal?
Foi a Troika que governou Portugal nos últimos anos?
A Troika emprestou dinheiro porque Portugal solicitou quando estava perto da bancarrota e não havia dinheiro para pagar os salários da Administração Pública. Mas não vale a pena culpabilizar ou lamentar o que deveria ter sido feito e não foi. É tempo de agir.
É verdade que existem muitos portugueses que passam por sérias dificuldades – esses têm de ser poupados: o desemprego atingiu números inimagináveis, as progressões de carreira estão na rua da amargura. Teme-se pelo desemprego e os funcionários públicos andam com o credo na boca.
Infelizmente, muitos portugueses empobreceram e perderam qualidade de vida, porque também inúmeras empresas foram fechando portas em catadupa nos últimos anos.
O mundo mudou, não é mais o mesmo e o tempo não anda para trás. Portanto, há que reinventar um novo país e um novo estado social, arregaçar as mangas e pôr mãos à obra.
Como estávamos não vamos mais estar: desenganem-se os nostálgicos pesarosos.
Os portugueses vão ter de superar os obstáculos que a crise impôs, porque a vida é uma sucessão de demandas, não podemos ter tudo garantido pelo Estado. Lamentar não nos leva a lado nenhum. Cada português erige e forja o presente e o futuro de Portugal, porque cada cidadão tem legitimamente expectativas quanto ao futuro.
Sinceramente eu acredito em Portugal!
Nem sempre conseguimos fazer aquilo que queremos ou gostamos, mas aquele que gosta de fazer aquilo que faz e sente orgulho em fazer melhor, certamente cada dia que passa vai mais longe.
Os próximos tempos vão ser de mudança e agitação, brotando desafios e novos objectivos aos portugueses. E quando a vida nos provoca e incita coragem, arrojo e criatividade e um inabalável espírito de luta e sacrifício só nos pode conduzir a bom porto.
Nem sempre as boas intenções são suficientes para governar, é preciso agir. Perorar com megafone na mão atacando não se sabe bem quem e reclamando disfarçadamente o poder que o povo nunca lhes confiou não nos conduz a lado nenhum.
Confiar no futuro é fitar o presente nos olhos com coragem sem arrogância mas com confiança. Por vezes, o modo como encaramos as dificuldades é que faz toda a diferença: às vezes perguntamo-nos: como conseguiremos ultrapassar mudanças tão radicais que se apresentam diante nós. Como se mudássemos de palco, onde coisas que fazíamos tão bem e éramos reconhecidos precisam ser reaprendidas porque foram superadas pela inexorável passagem do tempo.
O incrível é que justamente diante de situações tão adversas muitos redescobrem o que têm de melhor: a ética, a amizade, a solidariedade, a confiança, a lealdade e a capacidade de criar novas estratégias; tudo isto aflora quando as circunstâncias extraordinárias assim o exigem.
A combinação de energia e inteligência, bem como o equilíbrio entre a razão e a emoção são fundamentais para o pôr Portugal no caminho da vanguarda europeia.
Com a queda do império colonial Portugal apostou tudo na Europa voltando costas ao mar. O mar que nos deu tantas alegrias, glórias e fama. O mar que possibilitou a diáspora portuguesa que labuta em terras longínquas espalhando a nossa portugalidade pelo mundo fora.
O Governo está a adoptar medidas difíceis mas necessárias, impopulares mas realistas, nenhum governante de ânimo leve corta despesas que afectam directamente as famílias. Os ajustamentos que estão a ser efectuados em Portugal são a metade de uma moeda, pois o reverso terá de passar forçosamente pelo investimento (materiais e humanos) que permita o crescimento económico.
Portugal não tem uma grande indústria como têm alguns países da Europa.
Portugal não tem petróleo, ouro, diamantes ou gás natural, mas tem a força das ondas do mar, do vento, um sol radioso durante todo o ano; praias ledas e campos viçosos.
Portugal possui duas enormes riquezas: a sua gente e o legado da língua.
O português é a quinta língua mais falada no mundo. Mais de duzentos milhões de pessoas falam a língua portuguesa. Alguns países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) estão com taxas de crescimento económico brutais. Comungamos o mesmo idioma, a mesma forma de estar e sentir; rimo-nos das mesmas coisas, e isso facilita tudo; nomeadamente os negócios e a cooperação entre países impelidos por interesses comuns.
Foi um erro grasso virar ostensivamente as costas ao mar e apostar tudo na Europa. Nem tudo é preto e nem tudo é branco.


Não é fácil abandonar hábitos e costumes; não é fácil adaptarmos a novos meios ou usar novos recursos nos quais não estamos familiarizados, mas o pessimismo e a insegurança nos momentos de dificuldade só atrapalham. Ainda que as ameaças venham de todos os lados – ou pelo menos, seja essa a nossa percepção –, com agilidade, energia e determinação podemos alcançar um futuro jubiloso.

Depois da tempestade virá a bonança. Sentiremos uma sensação extremamente agradável de chegar ao fim de uma etapa com a consciência do dever cumprido e obter o reconhecimento daqueles que nos rodeiam e a admiração das pessoas que amamos. O orgulho de quem viu nas adversidades e obstáculos a oportunidade de crescer; o orgulho de quem soube passar as turbulências e agruras da vida e vencer… e os portugueses vão vencer!

sábado, 12 de novembro de 2011

Multa ou Assalto?

O trânsito está caótico como é hábito aos dias de semana. Por vezes, demoro cerca de uma hora para percorrer meia dúzia de quilómetros. Normalmente tomo a marginal de Luanda, viro à esquerda na rua Serqueira Lukoki, mais conhecida pela rua do edifício BPC. Chegando ao cimo da rua tenho múltiplas alternativas na direcção da Cabral Moncada, situada entre a Maianga e a Sagrada Família. Desta vez, porém, tomo outro caminho. Em vez da marginal como de costume, vou por dentro, pela rua Major Kanyangulo uma contígua à marginal.



À minha esquerda, uma subida sem trânsito em direcção à Calçada Comandante Veneno. Olho com atenção, o sinal atesta a legalidade da manobra que farei a seguir. Ao subir a rua, novamente o trânsito parado. Inesperadamente sou surpreendido pela mão fechada dum polícia a bater toscamente no vidro do meu lado esquerdo.
“Abra o vidro e mostre-me a sua carta de condução”, ordena bruscamente.
“Boa tarde Sr. Agente. Há algum problema?”
“Sim há. O senhor circulou numa rua de sentido proibido”, mantém o tom de voz seco e hostil, e de seguida pede-me novamente a carta de condução.
Só nessa altura dou conta que não tenho os documentos pessoais. Costumo tê-los na minha pasta, mas por mero acaso não a levara nesse dia. Todavia, no porta-luvas tenho sempre 1.000 Kwanzas para o pagamento das famosas “gasosas”. Um eufemismo para suborno. A palavra “suborno” pode chocar o leitor, mas em Luanda, este comportamento está dentro dos padrões da vida quotidiana, é portanto, uma conduta banal.
“É melhor pagar e evitar chatices.” Fora-me dito inúmeras vezes por colegas de empresa e outros portugueses que por aqui trabalham, e acrescentam: “quando um polícia em Luanda teima com alguém – sobretudo se for branco – não há nada a fazer. O melhor é mesmo pagar.”
Devo confessar que este argumento nunca me convenceu; até porque, quando aqui estive pela primeira vez em 1999, comportei-me exactamente ao contrário. Uma vez, numa tentativa de extorsão vil, ameacei um energúmeno da farda de o despedir vejam só!
“Você sabe com quem está a falar? Você não me conhece! Quer perder o emprego?” – Rematei num impulso inesperado. O polícia ficou tão azamboado que rapidamente se desfez em desculpas.
“Desculpe Sr. Doutor”, abrindo caminho à minha passagem. O meu colega André que fora comigo ficou lívido de espanto.
Com os anos, vamos amadurecendo na adega da vida, moderamos os nossos comportamentos e aprendemos a controlar melhor os nossos impulsos.
Moderados os impulsos de outrora, quando comecei a conduzir sozinho em Luanda por meados de Agosto, acabei por ser preza fácil e apetecível para os tiranetes da farda.
Como há pouco referi, os portugueses (e não só!) a trabalhar em Luanda optam pelo pagamento das “gasosas” evitando assim, embaraços maiores. De facto, há histórias grotescas. Certa vez, um agente de trânsito ordena a paragem de um automobilista. Envolvem-se numa troca de palavras:
“Você não parou no sinal…” Assevera o polícia.
 “Mas não há sinal nenhum!” Responde o motorista.
“Não há, mas já houve…”
Outra história, passou-se comigo, com o director da empresa Ogimatech (grupo Reditus) João Canário e mais um colega – creio ter sido o Fortes. Após um jantar no São João, fomos beber um copo à Ilha do Cabo. Durante o caminho entre risadas e desabafos das minhas aventuras e desventuras com a polícia angolana, recebo uma vez mais ordem de paragem, muito perto do Edifício do BPC mesmo no centro da cidade. Este imponente edifício – o mais alto da foto – é uma marca incontornável da presença colonial portuguesa em Angola, talvez seja a última grande obra portuguesa no Ultramar. Vai fechar para remodelação, espero que não estraguem a sua fachada histórica, um marco indelével da arquitectura portuguesa em África.
Desta vez paguei 2.000 Kwanzas (cerca de 20 Dólares), porque a fotocópia do passaporte estava em “mau estado de conservação” e o João Canário pagou a mesma quantia já nem me lembro o motivo. A fotocópia tinha cerca de 15 dias, portanto, estava em bom estado. Um abuso de autoridade abominável; mas ou pagávamos ou ficávamos com a noite estragada.
Voltando ao início. O energúmeno do polícia ordenou que saísse do carro ameaçando levar-me para a esquadra.
“Para a esquadra? Isto é ridículo! Está a pôr-me à prova e quer dinheiro”, pensei.
Abri o porta-luvas, tirei os documentos do carro, coloquei a nota de 1.000 Kwanzas debaixo dos documentos e entreguei-os ao polícia acrescentando:
“Pegue. É o que tenho comigo. A carta de condução e o passaporte ficaram em casa mas posso lá ir buscá-los se assim entender.” Estava relativamente perto de casa, em Luanda não há longe nem distância, tudo é perto de tudo.
A expressão do polícia denunciou a desilusão pela quantia do pagamento, e senti de imediato a sua exasperação.
“Saia imediatamente do carro e acompanhe-me à esquadra.” Volta a ordenar bruscamente na vã tentativa de me acabrunhar perante a sua intimação.
Mas não me intimido. Aceito o desafio e vou a jogo. “Lá se vai o meu treino de final de tarde”, pensei.
“Muito bem.” Assenti. “Vamos então para a esquadra.” Fito-o com firmeza e perpassa algum embaraço da parte do polícia visivelmente surpreendido pelo meu atrevimento.
“Talvez tenha cometido um erro ao pegar na nota de 1.000 Kwanzas”, penso enquanto estaciono o carro e pego nos meus pertences (carteira, telemóvel). Por duas razões: primeiro mostrara pouca convicção nos meus argumentos. Se não cometi nenhuma irregularidade na condução como explicar a precipitação em pagar-lhe? Segundo, e seguindo este raciocínio, “se com esta facilidade quis pagar, com alguma dificuldade pagará muito mais!”, deve ter raciocinado o polícia que andava na casa dos vinte e muitos anos; era mais alto que a maioria dos angolanos; agressivo mas pouco convincente; e o andar desengonçado denunciava timidez e pouca assertividade.
Depois de calcorrear cerca de cinco metros o polícia pára e encaminha-me na direcção do seu superior hierárquico. Expus os meus argumentos e insisti que não cometera nenhuma infracção ao ter entrado naquela rua. A única infracção cometida fora a falta dos documentos. Mas o polícia teimava que eu estava errado.
“Sr. Agente, volto a explicar-lhe que no início da rua está lá um sinal de sentido único, portanto, é uma rua transitável no sentido que tomei.”
“Está enganado. O senhor deve andar conforme o sentido em que os carros estão estacionados. Olhe para lá e diga-me se vê algum veículo estacionado na direcção que veio?”
“Ora essa! Então para que servem os sinais? Porque insisto: está lá um sinal!”
“Pois está. Está e não devia estar! Sabe?”, Uma pausa na sua argumentação gera um ambiente de suspense; com um tom de voz suave e monocórdico assume uma postura paternal e enfatiza a confidência que fará a seguir: “para andar em Luanda é preciso conhecer bem toponímia da cidade.” Tive de girar o pescoço e mascarar o riso entre dentes de tanta imbecilidade. Talvez quisesse dizer tipologia, não sei!
“Então e agora? O que fazemos?” Pergunto-lhe.
“Vamos fazer o seguinte: você vai ligar-me para o telemóvel para registar o seu número; o seu cartão de cidadão fica comigo enquanto vai a casa buscar o seu passaporte e a sua carta de condução. “Você tem mesmo carta de condução não tem?” Mostrando zelo pela causa pública.
“Claro que tenho Sr. Agente. Então acha mesmo que se não tivesse carta de condução conduzia em Luanda?” Mostro-lhe o ridículo da sua dúvida.
“Tem razão. Acredito na sua palavra”, a duplicidade do sentido desta última frase significava que confiava num pagamento generoso da minha parte.
”Então vá buscar os seus documentos. Mas não se demore muito hã! Se por um acaso o carro patrulha não estiver aqui, ligue-me para o telemóvel porque vamos andar por esta zona.”
Apesar do contratempo não mudei os meus planos pessoais: o treino de final de tarde na Ilha do Cabo não estava posto em causa. Durante o caminho de casa pensei na melhor solução e revisei toda a cena. Analisei cuidadosamente todos os dados: por um lado ordenaram que parasse por uma suposta infracção que não cometi; mas por outro, não trazia os documentos; por um lado um dos guardas desprezou a nota de 1.000 Kwanzas – obviamente porque era pouco; mas se a intenção fosse aplicar a lei não faria nenhum sentido ir a casa para lhes levar os documentos. A conclusão fora simples: 1.000 Kanzas era insuficiente para serem divididos por dois; a ida a casa fora um pretexto para subir a oferta. Todavia, não estava na disposição de pagar nem mais um cêntimo, nem mais um dólar, nem mais um kwanza e pagaria somente os 1.000 pela falta dos documentos, “que se lixem. Passem a multa.”
Seria este comportamento sensato? Não estaria a cometer um risco? Não seria melhor abrir os “cordões à bolsa” e esquecer este episódio pitoresco?
Em Luanda escurece por volta das 18:15h. A noite tomara de assalto a cidade tornando os edifícios lúgubres e taciturnos abafados pelo mau cheiro que empesta a cidade. Chegado ao local acordado não avistei nenhum dos polícias. Peguei no telemóvel, liguei para o mais graduado e esperei. Ao fim de dois ou três minutos a calçada é iluminada pelas luzes fantasmagóricas projectadas pelas sirenes do carro patrulha da divisão de Ingombota que pára a cerca de dois metros. Olho com atenção para o seu interior e vejo três polícias: “três polícias?!” Talvez devesse ter trazido mais dinheiro pensei. Se o primeiro desprezou os 1.000 Kwanzas, como poderiam agora três satisfazer-se com esse montante?
«O que não tem remédio, remediado está» diz o povo e com toda a razão.
Sem perder tempo e sem rodeios aproximei-me do carro patrulha da divisão de Ingombota, do lado oposto ao condutor. O guarda abre o vidro e entrego-lhe em mão toda a documentação. Passou os olhos pelos papéis com desprezo sobranceiro e entregou-os ao seu superior. Calmamente, fingiu analisar a documentação diligentemente e fez um compasso de espera embaraçoso. “Afaste-se do carro, você não pode pôr aí os braços. Afaste-se!” Grunhiu intempestivamente o verdugo subalterno referindo-se à postura dos meus braços assentes na porta do veículo. O comportamento reiteradamente agressivo mostrava claramente insegurança e nervosismo que contrastava na perfeição com o meu estado de espírito. Calmo, sereno, confiante e disposto a correr todos os riscos, mesmo que implicasse o pagamento de uma multa pela falta dos documentos.
O comportamento hostil funcionava contra os próprios polícias visivelmente atrapalhados pela minha perseverança. Percebi que quanto mais agressivos se tornavam mais nervosos ficavam o que deu clara vantagem e predomínio sobre todos eles.
O superior ordena que se cale. Olha na minha direcção e diz:
“Senhor José Gomes. Vou sair do carro para falarmos os dois a sós calmamente.”
“Mas eu estou calmíssimo.” Respondi sorrindo para o interior. Contornei o carro patrulha e fui ao seu encalço para falarmos mais à vontade. Entretanto, os outros dois apeiam-se do carro, um fica a cerca de dois metros do local da nossa conversa e o outro afasta-se com o meu cartão de cidadão.
“Então Sr. Agente? A documentação está em ordem?”
“Está sim.” Entrega-me a documentação e verifico que falta o cartão de cidadão.
“Falta um documento Sr. Agente.” Começa a falar fingindo não ter ouvido.
“Mas sabe? Enquanto você foi a casa tive muito trabalho para convencer ali o meu colega a não lhe passar a multa. Consegui convencê-lo que você era um cidadão de confiança, acredite que tive muito trabalho, não foi nada fácil. Mas olhe que ele está disposto a perdoar-lhe a multa”, ergueu os braços triunfantes e contínua “agora depende de si. Tem de lhe dar mais qualquer coisa”.
“Desculpe Sr. agente. Não podem passar multa por ter circulado naquela rua. Isso é ilegal.”
“O meu colega não pensa assim. É melhor dar-lhe mais qualquer coisinha para o acalmar”. Obviamente que a referência que era feita ao colega era uma tríade de vontades.
“Mas eu já lhe dei e ele não aceitou” respondi afavelmente, puxando a nota de 1.000 Kwanzas do bolso, “está a ver? Dei-lhe há pouco e ele não a quis!”
“Pois! Mas tem de dar mais porque isso não chega, ele está disposto perdoar a multa se você colaborar. Tem de ser mais generoso com ele está a ver?“
“Muito bem.” Assenti.
“A única coisinha que lhe dou são os 1.000 Kwanzas que ele recusou há pouco. Ou os aceita, ou então que passe a multa”, não desarmo e tomo embalo para o bluff.
“Só isso. Não sei se ele vai aceitar”, retorquiu.
“Isso é um problema dele. Não é um problema meu”, e contínuo com a exposição, “sabe Sr. Agente? Estou muito à vontade porque se passarem a multa também não a vou pagar. O único problema é o tempo que estou a perder com vocês em vez de estar a treinar na ilha. É só por isso que lhe dou os 1.000 Kwanzas porque senão nem isso vos dava. Tenho muitos contactos aqui em Angola e é por isso que não estou nada preocupado com a multa que possam passar, e muito menos com o seu colega. Se assim não fosse acha mesmo que esta seria a minha oferta? Acha mesmo? Tenho muitos amigos no Ministério do Comércio, basta um telefonema para retirarem a multa” O embaraço no polícia reverberou no seu outro colega que bate em retirada e afasta-se.
“Mas há mais.” Faço uma breve pausa, e contínuo em tom de confissão: “se o seu colega passar a multa pela infracção que sabem que não cometi porque está lá um sinal que permite circular neste sentido. É o mesmo que passar uma multa contra a lei; isso é inconstitucional”. Se o guarda ainda tinha alguma intenção em extorquir-me dinheiro, esta última palavra “inconstitucional” despertou-o do torpor. Visivelmente atrapalhado liga ao seu colega: ”olha lá onde estás. Temos aqui o nosso querido amigo à espera do cartão de cidadão. Onde andas? Despacha-te porque o nosso querido amigo quer ir treinar para a ilha e está a fazer-se tarde.”
Claramente assarapantado o polícia atravessou a estrada em passada larga, docilmente entrega-me o cartão de cidadão e eu dei-lhe os 1.000 Kwanzas. Fizemos as despedidas de cortesia e ao entrar no carro vejo duas motas a passar na estrada que havia tomado uma hora antes. O carro patrulha permanecia imóvel. Fui ao seu encalço, “está a ver Sr. Agente? Afinal é permitido circular neste sentido!” Entreolharam-se, encolheram os ombros, sorriram e foram-se embora.
Tal como havia planeado, fui correr para o calçadão da Ilha do Cabo, um pouco mais tarde é certo, mas fui.

A mensagem que pretendo transmitir com este episódio menor da minha vida quotidiana em Luanda, mostra nitidamente que a coragem é o motor das decisões que norteiam as nossas vidas, das opções que tomamos ou deixamos de tomar. Ter coragem não significa que não tenhamos medos ou receios. Significa vontade em enfrentá-los.
Dedico esta minha aventura ao meu querido filho e à minha mulher (dia do seu aniversário), que tenham a coragem bastante para enfrentar as vicissitudes da vida, os seus medos e receios. Porque quem mostra fraqueza não vai longe.

Animum fortuna sequitur - A sorte segue a coragem.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A vida humana

O maior progresso do chamado “mundo civilizado” é o valor que damos à vida humana.
É um valor absolutamente cristalino, intocável e inviolável.
Este valor é a “pedra de toque” do mundo ocidental face ao resto do mundo
No outro dia, perto da marginal de Luanda a caminho do emprego ouvia atentamente a situação do trânsito nas imediações da cidade numa rádio local.
O locutor – creio que se chama Jorge Gomes – com grande à-vontade comunicava “… o trânsito está muito lento e na berma da estrada encontra-se um cadáver, deve ter sido atropelado…”, e continuou a informar o trânsito noutros locais da cidade.
“Na berma da estrada encontra-se um cadáver?”
Por segundos pensei que estava a alucinar, olhei para o lado direito na direcção do meu colega que vinha comigo e entreolhámo-nos com espanto e estupefacção.
“Estamos em África” dissemos um ao outro. Ao fim de algum tempo em Luanda tentamos relativizar um pouco as coisas e pôr de lado as nossas crenças e valores. Mas a afirmação é paradigmática: como se estar em África fosse justificação primeira para pôr atrás das costas toda e qualquer atrocidade aos mais elementares direitos e limites da condição humana.
A distância que nos separa do nosso mundo não é física, é acima de tudo, civilizacional.
Quando contei este episódio a um angolano, ele riu-se.
“Deixa lá isso! É normal, não fiques assim. No outro dia estava um cadáver à beira de um caixote do lixo e alguém perguntou o que era «aquilo», responderam que era um «chinês» e ninguém lhe ligou nenhuma.” Demorou alguns segundos para assimilar o que acabara de ouvir. “Como é possível”?, pensei eu - a indignação e o assombro tomaram de assalto os meus sentidos.
O respeito pela dignidade e condição humana é um legado que despontou com a Revolução Francesa e foi-se forjando ao longo de décadas e décadas; é um legado que devemos preservá-lo como o maior tesouro que a humanidade tem – a vida.
Hoje, enquanto me arranjava para mais um laborioso dia na Total EP (exploração petrolífera) na cidade de Luanda, as televisões davam à estampa a notícia de última hora: “Duarte Lima vai ser julgado pelo homicídio de Rosalina Ribeiro.”
Este caso chamou-me a atenção desde o começo. Não porque conheça Duarte Lima ou tenha alguma admiração por ele, mas por outra razão: ele venceu uma leucemia.
Há cerca de dez anos acompanhei com alguma regularidade uma menina de treze anos – Andreia de seu nome – filha de um casal amigo de uns outros amigos meus, a menina sucumbiu à doença ao fim de um ano.
Acompanhei com algum detalhe os tratamentos a que a Andreia se submetera – e eram bem dolorosos – em nome da vida, pela vontade que ele sempre manifestara em continuar entre os mortais.
Muitas vezes dou por mim a pensar como estaria ela se tivesse vencido a doença?
Feliz. Muito feliz.
Duarte Lima fitou a morte e venceu doença, a vida brindou-o novamente, como se tivesse nascido outra vez. Com alguma naturalidade e altruísmo foi um dos fundadores da Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL) que tem ajudado inúmeras pessoas vítimas desta doença.
Ora, por tudo isto – e não é nada pouco – Duarte Lima deveria ser alguém com enorme apego à vida e respeito pela condição humana. Por isso, custa a crer que seja acusado de ser o autor de tão hediondo crime e que o móbil tenha sido supostamente dinheiro.
Quando os media colocaram este caso no olho do furacão ele deu uma entrevista na RTP, penso que à Judite de Sousa. Essa entrevista deixou-me impressionado pela fragilidade dos seus argumentos. Fez-me lembrar outras entrevistas desesperadas na tentativa de justificar o injustificável de outros actores políticos como Armando Vara ou Dias Loureiro.
Todos os indícios apontam para a sua culpabilidade no crime de Rosalina Ribeiro.
Claro que até prova em contrário ele é inocente.
Para quem tanto lutou pela vida, desgraça-la num calabouço é uma enorme ironia do destino.
Se acreditasse em Deus diria que Duarte Lima foi um joguete na mão de Deus e do Diabo. Este último deve ter-se ficado a rir.


Decipiunt omnes ambitione lucri. Todos enganam pela ambição de lucro.

domingo, 23 de outubro de 2011

Facada no Governo

O Orçamento de Estado apresentado pelo Governo durante esta semana levantou celeuma e brado nos vários órgãos da comunicação social.
É normal que as pessoas visadas com os cortes na despesa do Estado e consequentemente com a perda de rendimento se sintam indignadas. Sabemos também, que nestas situações é muito fácil para o Parido Comunista juntamente com as centrais sindicais massificar essa indignação na rua.
Mas não há alternativas para a situação em que Portugal se encontra.
Quisera eu que as houvesse mas não as há. Quem disser o contrário está a ser demagogo.
Por isso, não há muito tempo escrevi que o Governo iria sofrer a pressão da rua e teria de ser forte para não ceder e levar a cabo as medidas que o país precisa.
Essa pressão já se está a fazer sentir com vigor, até o Presidente da República saiu a terreiro para as criticar
Ora, as declarações de Cavaco Silva foram uma tremenda facada nas costas do Governo. Mesmo assim, Pedro Passos Coelho deve preconizar estas medidas e sacudir a sociedade portuguesa da alcova do Estado.
Quando Portugal chegou ao limite de não ter dinheiro para pensões nem salários dos funcionários públicos, Cavaco Silva permaneceu calado.
Quando o Ministro da Administração Interna violou a Lei e deixou de fazer os descontos dos funcionários do seu ministério, Cavaco Silva permaneceu Calado.
Quando os anteriores governantes vociferavam com desfaçatez que a crise não chegaria a Portugal, Cavaco Silva permaneceu calado.
Quando tivemos de pedir ajuda externa a trouxe-mouxe e em condições humilhantes para Portugal, Cavaco Silva permaneceu calado.
O Governo está a tomar as medidas certas.
O Governo está a dar os sinais correctos, embora não nos agrade algumas delas.
Alguns comentadores e sindicalistas falam em alternativas mas não apresentam nenhuma verosímil. A verdade é que muito daqueles que vagueiam na ilusão e na quimera não querem alterar coisa nenhuma, querem manter o status quo.
Como estamos não vamos a lado nenhum.
Cidadãos do meu país: unam-se num esforço colectivo em prol dos nossos filhos e das gerações vindouras.
O mundo mudou, não é mais o mesmo das décadas de 60, 70, 80 e 90.
Vamos ter que gastar menos nos próximos anos e quem não aceitar este facto vai ter muitas dificuldades em se adaptar a uma nova realidade.

Potius eligendum est id quod possibile, quam quod impossibile [Aristóteles] – É melhor escolher o possível do que o impossível.

domingo, 9 de outubro de 2011

Eleições na Madeira 2011

Quem conhece a Madeira não pode deixar de reconhecer que foi feita ali obra. Pessoalmente a Madeira fascina-me, é uma ilha encantadora e tenho bons amigos lá. Mas também não deixa de ser verdade que há muitas assimetrias sociais na ilha que o Governo vai encapotando aqui e acolá.
As últimas sondagens mostram claramente que Alberto João Jardim vai continuar à frente dos destinos da Madeira ao fim de 33 anos de Governo Regional.
Como explicar esta larga maioria quando ainda recentemente Alberto João Jardim publicamente declarou ter omitido deliberadamente as contas da Madeira ao Governo do continente, violando assim uma Lei da República Portuguesa?
Por um lado conseguiu durante todos estes anos canalizar largas sangrias de dinheiros públicos do continente para a ilha num clima político quezilento e mostrando muito pouco respeito pelos concidadãos do continente: cultivou rancores, insultos e incomodou até ao limite os governantes continentais. Muitos madeirenses enaltecem o comportamento do seu líder julgando que este defende os seus interesses.
Alberto João Jardim politicamente usa a estratégia usada por Salazar: como temos um país dependente do Estado; desde o grande empresário, ao funcionário público, pequenas e médias empresas que prestam serviços ao Estado, Jardim consegue distribuir benesses e mantendo-as dependentes do “seu” poder.
Ora, os tempos são de mudança e de novas políticas.
Os madeirenses estão a cometer um enorme erro com a reeleição de Alberto João Jardim.
A Madeira precisa urgentemente de um líder capaz de dialogar com o continente, de um líder que também se solidarize com o continente na busca de soluções para os problemas de Portugal “inteiro”.
Os políticos do continente estão fartos de Jardim, até Pedro Passos Coelho lhe retirou a confiança política não o apoiando nestas eleições: fez muito bem.

A lasso rixa quaeritur – O homem esgotado procura rixa.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Inferno da Luz Vs Red Devils

O jogo de hoje à noite entre o Benfica e Manchester United recorda os grandes clássicos do futebol europeu e mundial. Mas Benfica e Man United têm hoje concepções muito diferentes de encararem a indústria do futebol moderno.
O meu Benfica é francamente mais pobre financeiramente e em termos de mercado de merchadising; vive de um passado glorioso é certo, e que muito honra a família benfiquista, mas que não tem correspondência com a realidade desportiva. Ao contrário, o Man United apesar dos pergaminhos históricos inventou-se depois da Taça dos Campeões europeus mudar de formato para a Liga dos Campeões.
Esta noite, apesar do meu Benfica ter dado uma boa réplica ao Gigante mundial, manifestou claramente que não tem vitalidade para vencer o Man United. Por isso: o meu Benfica tem um passado e um discurso desfasado da realidade.
Esta noite, na Catedral da Luz acredito sinceramente que as hostes benfiquistas tenham ficado entusiasmadas com um empate caseiro frente ao maior clube inglês da actualidade. Ainda me lembro de estar no velhinho estádio da Luz em que os jogos europeus jogavam-se com o imperativo de vitória; independentemente do adversário.
Não me venham com a lábia da sorte e do azar: o azar é uma má desculpa para os débeis e a sorte é uma bela desculpa para desprestigiar quem é melhor e mais competente.
Eu bem tento racionalizar o futebol, mas não vale a pena porque o futebol é exactamente o contrário da racionalidade; por isso escrevo estas linhas sobre o efeito da comoção do empate do meu clube.
Apesar do empate aziago, acredito declaradamente que o meu Benfica só não passa a fase de grupos da Liga dos Campeões se for brutalmente incompetente.

Ser Benfiquista…



domingo, 4 de setembro de 2011

Trilhar um rumo para Portugal

Esta semana quando todos esperavam que Vítor Gaspar comunicasse cortes na despesa da máquina do Estado, ele anuncia mais agravamentos fiscais para os escalões de IRS mais elevados, e claro, as críticas fizeram-se sentir de forma impiedosa.

Portugal pediu ajuda externa porque foi incapaz de se governar e não tomou as medidas que deviam ter sido tomadas.

Recusou a crise até ao limite do intolerável e deu no que deu. Agora, há que reverter todo o paradigma económico e social do país para não onerar ainda mais as gerações vindouras. É imperioso reverter a tendência do aumento do deficit e conquistar a credibilidade dos credores e, acima de tudo, inverter este quadro de descrença, amorfo e de tristeza nacional; custe o que custar, goste-se ou não se goste, não há volta a dar. É como uma família que tenha um rendimento de 2500€ e gaste mensalmente 3000€, mais cedo ou mais tarde não terá capacidade para poder honrar os seus compromissos. Portanto, ou reduz a despesa ou aumenta o seu rendimento, é esta a realidade dos números.

Nos próximos meses vai haver manifestações de rua, a pressão sobre este Governo vai fazer intensificar-se e o Partido Comunista mobilizará milhares de pessoas nas ruas. Portanto, Pedro Passos Coelho e Vítor Gaspar vão passar pela provação da ira dos manifestantes.

O pior que este Governo poderá fazer é recuar perante a rua, é capitular o seu programa perante o descontentamento das massas. Até porque, manifestações com trinta, quarenta, sessenta ou cem mil manifestantes não são a larga maioria dos Portugueses. É um enorme equívoco pensar-se que os mais acérrimos descontentes representam a vontade popular ou que falam em nome do povo português.

Portugal vive hoje uma situação única para poder “mudar de vida”. Este Governo pode – e deve – implementar um choque liberal capaz de sacudir o mosquedo da manjedoura dos recursos do Estado.

Os Portugueses só viverão melhor se Portugal crescer economicamente. Para isso temos de criar condições de atrair capital estrangeiro, é necessário um grande investimento da parte do Estado em sectores que possam substituir importações, nomeadamente a agricultura e as pescas; e acima de tudo, uma classe empreendedora disposta a assumir riscos, e isso só será possível com a credibilização das instituições do Estado e da Administração Pública.

Os Portugueses não devem recear esse choque liberal, devem antes, recear a falta dele e o marasmo e a inércia em que o país se encontra.

Este Governo apresentou-se às eleições com um conjunto de propostas de cariz liberal e o povo confiou-lhe o poder para implementar esse programa.

Claro que estas medidas são apenas uma parte da moeda. Pois será absolutamente necessário que este Governo reduza a despesa corrente do Estado. E estou sinceramente convencido que vai fazê-lo de forma pensada e equitativa. Pedro Passos Coelho rodeou-se de pessoas competentes, desapegadas do poder, pessoas de sucesso nas mais diversas profissões; rodeou-se de pessoas que pouco têm a ganhar com a vida política.

Depois do 25 de Abril PS e PSD alternaram o poder. Ora, Portugal precisa que os partidos do arco do poder apresentem programas diferentes e verdadeiramente alternativos, que valha a pena escolher um ou outro, que não sejam iguais. Por isso disse à pouco que Portugal vive hoje uma situação única para poder “mudar de vida”.


Cui spes omnis pendet ex fortuna, huic nihil potest esse certi [Cícero] – Para quem toda esperança depende da sorte nada pode haver de certo.

sábado, 13 de agosto de 2011

Mais do mesmo!

Quando uma equipa de futebol entra em campo sujeita-se a um de três resultados: empate, vitória ou derrota. A incerteza do resultado alimenta a paixão pelo desporto Rei “futebol”, porque nem sempre ganha a equipa que tem os jogadores mais virtuosos, nem sempre vence a equipa que proporciona o melhor espectáculo e, nem sempre o lado derrotado se convence da superioridade do adversário. Portanto, o empate do meu Benfica ontem à noite frente ao Gil Vicente acaba por ser normal no âmbito de um puro jogo de futebol de 90 minutos. Claro que isto é um subterfúgio da minha parte para exorcizar os fantasmas que vão pairando no lado Ocidental da 2ª circular.

O Campeonato Nacional acaba de começar e o Saviola com toda a desfaçatez diz que há muito Campeonato para recuperar! Claro que há. E também há muito mais campeonato para se perder mais pontos.

O Ruben Amorim declara que quer ser campeão. Claro que quer! Querem todos os benfiquistas.

Havia um filósofo que dizia que a estupidez é incomensuravelmente mais fascinante que a inteligência, porque enquanto esta tem os seus limites aquela não os tem. Não é o resultado de ontem que me preocupa. O que me preocupa é a estupidez instalada no meu clube.

Quando o Jorge Jesus no ano passado se desdobrou em entrevistas tolas, dizendo que queria vencer a Liga dos Campeões, imprudentemente a dispensar jogadores à “paulada” na praça pública e a desvalorizar activos, não alvitrei grandes resultados para a época que se avizinhava. Este ano passa-se exactamente a mesma coisa. O mesmo presidente (LFV), o mesmo director desportivo (RC) e o mesmo treinador (JJ) e a mesma estupidez.

Jorge Jesus na passada semana numa entrevista ao Sol afirmava que quando chegou ao Benfica tinha dificuldades de comunicação e em expressar-se à comunicação social e para colmatar essa lacuna fez um curso de comunicação de Verão, pelos vistos foi pior a «ementa que o corneto». Não sei quem lhe ministrou tal formação, não sei se JJ foi um bom formando ou não. O que sei, e a ver pelo seu comportamento é que o resultado dessa formação ficou muito aquém e além de produzir algum resultado positivo.

Um bom exemplo do que acabo de dizer foi a declaração do treinador do Benfica sobre o campeão europeu e mundial espanhol Capdevila. Dizia JJ que não ligava aos nomes nem ao passado dos jogadores, que para ele, Capdevila era igual aos outros.

Quem estiver habituado a liderar pessoas e quem tem inteligência emocional jamais comete um erro destes. Não há nada mais desigual que tratar pessoas diferentes de igual modo.

O resultado de ontem reflecte a ausência de argucia e inteligência dos homens que gerem o meu clube.

É pena! Porque os benfiquistas mereciam muito mais e melhor, principalmente aqueles que seguem e vibram pelo Glorioso nessa diáspora espalhada pelos cinco cantos do mundo.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Final Inédita

Com toda a justiça estamos a poucas horas da primeira final europeia – Liga Europa – entre duas equipas portuguesas: o S.C Braga e o F.C. Porto e foram as duas equipas mais competentes durante toda a competição.
O meu Benfica poderia estar presente nesta final, não o conseguiu por incompetência e por mérito do Braga. Gorado este meu desejo – que tanto anseio – não vislumbro outra oportunidade tão verosímil nos próximos anos, pelo menos enquanto o meu clube for (in)gerido pelo Rei dos pneus.
Em relação a esta final tenho uma vantagem que muitos portugueses (infelizmente) não têm, sou muito mais português do que benfiquista e, portanto, esta Liga Europa não me traz o sabor aziago da falhada presença do Benfica em detrimento de outros dois clubes portugueses, embora o F.C. Porto seja o nosso maior rival. Mas adiante.
Nesta caminhada da Liga Europa o F.C. Porto foi de longe a melhor equipa durante toda a competição. Superou todos os seus adversários de forma clara, superior e austera. Cilindrou grandes equipas europeias e teve a coragem de assumir a candidatura à conquista do troféu logo no início da competição. Foi claramente uma equipa desenquadrada, todos perceberam que este F.C. Porto é uma equipa do primeiro plano do futebol europeu, isto é, da Liga dos Campeões.
O S.C Braga foi repescado da liga dos Campeões, mas fez um trajecto absolutamente extraordinário. Fez 9 pontos na Liga dos Campeões – normamente seriam suficientes para seguir em frente na competição – e eliminou nas pré-eliminatórias o Celtic Glasgow e o F.C. Sevilha. Repescado para a liga Europa continuou o seu caminho a tombar gigantes europeus - Dinamo Kiev, Liverpool, Benfica... – , com humildade, competência, crer e vontade, palmilharam o caminho até à glória, até ao último jogo onde nada têm a provar; e, se perderem (é o mais certo) será contra uma das grandes equipas mundiais do momento.
Exagero?! Não! Realismo.
Em Janeiro de 2002 numa conversa com antigos colegas da Sonae disse que se o F.C. Porto continuasse a praticar a qualidade do futebol que vinha praticando até então, seria um forte candidato a vencer a Taça UEFA – actual Liga Europa – o riso foi geral e chamaram-me de maluco. Quando o F.C: Porto venceu a Sampedoria de Itália por 4-1 (esteve a perder por 0-1) alguns colegas meus começaram a acreditar que de facto o Porto poderia chegar à final e, por ventura vencê-la. Nessa altura, e com total convicção disse que o F.C. Porto não era equipa de Taça UEFA, era equipa de Liga dos Campeões e, se para o ano a equipa não perder os jogadores mais influentes e jogasse daquela forma teria grandes possibilidades de conquistar a Liga dos Campeões – bem o que fui eu dizer??!! – a gargalhada foi total, mas a verdade é que o F.C. Porto venceu mesmo a Liga dos Campeões.
Tal como hoje, custa-me que não haja ninguém na comunicação social que não se refira à potética final entre F.C. Porto e Boavista. Pois é, o Boavista não esteve presente numa final europeia porque sofreu um golo aos 85 minutos diante o Celtic, um golo que ditou o fracasso ao sucesso, entre a glória e o oculto.
Recordo estes momentos porque há uma similitude clara do que se está a passar actualmente. Gostaria de relembrar o que escrevi neste blog em Junho de 2010 sobre André Villas-Boas, numa altura em que gerava desconfiança e descrença aos adeptos em geral e, aos próprios adeptos e respeitáveis comentadores afectos ao F.C. Porto em particular:
“(..) Pois eu sou da opinião que André Villas-Boas foi também dos melhores técnicos da liga. Pegou na Académica em último lugar (previa-se a descida de divisão), mas rapidamente colocou a Académica fora da linha de água e fez uma temporada tranquila. O Primeiro jogo de Villas-Boas foi contra o F.C Porto, com pouco mais de uma semana de trabalho viram-se imensas melhorias. O jogador que detinha a bola tinha sempre duas linhas de passe, isto é, havia sempre dois colegas desmarcados prontos a receber a bola, isto é trabalho de treinador a sério (ao contrário de Paulo Bento que teve quatro anos no Sporting e os jogadores atropelavam-se mutuamente).
Quando Paulo Bento saiu do Sporting, anunciei que Villas-Boas seria uma excelente contratação e fui bastante criticado. Passados alguns dias o Sporting tentou mesmo a sua contratação com uma proposta a rondar um milhão de euros, mas a Académica recusou. Gorada a ida para o Sporting tive a forte convicção (Outubro ou Novembro de 2009) que Villas-Boas seria o futuro técnico do F.C. Porto, desta vez fui visceralmente glosado, estava ao nível de um atrasado mental. (…)
(…) Houve quem vaticinasse Domingos Paciência e Paulo Bento como possíveis treinadores para o F.C. Porto. Desenganem-se, o primeiro é um treinador razoável mas não para um Grande, quanto ao segundo é uma anedota, até agora ninguém o quis.
Um dos problemas dos mídia em Portugal é que as opiniões se vão repetindo sucessivamente, alguém opina e outros ressoam essas opiniões, demitindo-se do mais elementar para se opinar – o pensamento.
Por tudo o que aqui foi escrito, claro que a contracção do jovem técnico para o F.C. Porto foi uma grande contratação. Parece-me evidente que na próxima temporada vamos ter um Benfica e um F.C. Porto ao mais alto nível.“
Como o meu leitor já deve ter reparado, por tudo quanto escrevi, é claro que tenho a profunda convicção que este F.C. Porto não é equipa da Liga Europa mas sim da Liga dos Campeões. E, tal como sucedeu em 2003, se mantiverem os jogadores mais importantes, obviamente são candidatos à conquista da Liga dos Campeões para a próxima época. Já o disse entre amigos. E, novamente, riram na minha cara…
NOTA: o ano passado o Benfica fez uma excelente temporada, e o F.C. Porto ficou em terceiro lugar com uma equipa superior à actual. Saiu o Bruno alves (no actual plantel não há nenhum central que se lhe compare) e saiu o Raúl Meireles para o Liverpool e considerado o melhor estragueiro na Liga Inglesa, embora para o seu lugar Pinto da Costa tenha contratado João Moutinho.