segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Sugestões de romances históricos

Normalmente não costumo recomendar livros, a não ser em duas circunstâncias: ou conheço muito bem os gostos da pessoa a quem recomendo ou, como é o caso, a superior qualidade literária e narrativa do livro em causa e, como estamos próximos da época do Natal, vem em boa ventura.
Somos invariavelmente invadidos semanalmente por inúmeras publicações de livros, em que muitos deles são de qualidade medíocre e, – infelizmente para quem gosta de ler – estes têm sido dos mais vendidos, não pela qualidade mas pela sua controvérsia, como é por exemplo o livro «Eu, Carolina», ou as bibliografias de alguns futebolistas.
Temos o mau hábito de abonar e laurear os autores de grandes obras postumamente. Provavelmente temos alguma dificuldade melindre de reconhecer os seus méritos em vida, talvez por serem nossos contemporâneos, quiçá por inveja, ou simplesmente por ignorância. Felizmente, nem é este o caso porque o autor a que me refiro tem tido – para meu deleite – bastante sucesso em todos os livros que tem publicado, significa isto que, também há portugueses que andam atentos aos bons livros. É com admiração que presto homenagem ao José Rodrigues dos Santos, autor de vários romances históricos como: «A Ilha das trevas» – uma história fantástica sobre a invasão da Indonésia em Timor, com a retirada dos portugueses após o 25 de Abril; «A filha do capitão» – um romance que invoca a participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial; por último temos a trilogia das aventuras do Professor Tomás Noronha, através do «Sétimo Selo», «Fórmula de Deus», e o «CODEX 632», é este último que vou recomendar, por ser o primeiro da trilogia.

A palavra romance está conotada por muita gente como uma história de amor, uma novela, embora não corresponda à verdade, é uma ideia completamente errada. Estou convencido que se houvesse um inquérito aos homens portugueses com a pergunta: «Gosta de ler romances?» – a maioria responderia que não, mesmo que nunca tivessem lido nenhum e, provavelmente pensariam que a leitura de romances são «coisas» para as mulheres ou, um insulto à sua masculinidade. Um romance histórico é uma narrativa, um enredo que pode envolver uma relação amorosa ou não mas, acima de tudo, retrata uma época, um país uma realidade que é consubstanciada por uma história ficcionada, certamente o titulo desta crónica não será muito apelativo para os «machos», mas vamos ao que interessa.

As aventuras do personagem Professor Tomás Noronha faz-nos recordar um pouco a personagem mítica do Indiana Jones, sempre à procura de enigmas para decifrar ou, da personagem Robert Langdon do romance «Código da Vinci» do escritor Dan Brown, aliás, o «CODEX 632» – na minha opinião –, não fica a dever nada ao Best-seller de Dan Brown.
Após a exibição do filme baseado no romance do «Código da Vinci», as visitas ao Museu do Louvre aumentaram subitamente, pois, é um local enigmático e crucial em todo o desenvolvimento e desfecho da narrativa. Se o José Rodrigues dos Santos fosse norte-americano ou inglês, certamente já estariam alguns dos melhores cineastas – Ron Howard, James Cameron, Steven Spielberg, Robert Zemeckis, George Lucas, etc. – A fazerem a rodagem das aventuras do Professor Tomas Noronha e, não tenho dúvidas que muitos dos locais históricos invocados no enredo iriam despertar a atenção do grande público ou a aumentos muito significativos das suas visitas, não só em Portugal, mas também em Espanha, Brasil, Itália, Israel, etc.

Esta obra é ladeada de várias histórias entrelaçadas, umas fictícias outras reais como são os casos: da História de Jerusalém; do Convento de Cristo, do Mosteiro dos Jerónimos; da História dos Judeus na Península Ibérica; da Quinta da Regaleira (um local absolutamente mágico); parte da História dos Descobrimentos Portuguesa e Espanhóis; História da cabalística e do Alfabeto, e não só...

Presumivelmente alguns pensarão que estou a retumbar ou a amplificar a qualidade da Obra, mas não, é de facto um trabalho notável e de grandíssima qualidade. Penso mesmo, que daqui alguns anos algumas obras deste autor poderiam perfeitamente entrar no sistema de ensino liceal, substituindo alguns clássicos com modelos de escrita anacrónicos e, – na minha opinião – enfadonhos no conteúdo e que contribuem para o afastamento dos jovens da leitura portuguesa.

Obviamente que um trabalho desta dimensão qualitativa não se faz sozinho, para se ter uma ideia da sua complexidade, o autor teve a preciosa e impelida ajuda de várias personalidades proeminentes da cultura e, conhecimentos cientifico a nível global, como são os casos: João Paulo Oliveira e Costa – Professor de História dos Descobrimentos da Universidade Nova de Lisboa; Diogo Pires Aurélio – director da Biblioteca Nacional de Lisboa; Paola Caroli – directora do Archivio di Stato di Genova; Pedro Corrêa do Lago – presidente da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, e um dos mais importantes coleccionadores mundiais de manuscritos autógrafos; António Gomes da Costa – presidente do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro: o embaixador António Tanger que abriu as portas ao autor (José Rodrigues dos Santos) do palácio São Clemente, no Rio de Janeiro; António da Graça (pai e filho) e Paulino Bastos – cicerones do Rio de Janeiro; Helena Cordeiro que permitiu ao autor uma nova visão sobre Jerusalém; o rabino Boaz Pash – o último cabalista de Lisboa; Roberto Bachmann – presidente da Associação Portuguesa de Estudos Judaicos; Alberto Sismondini, valioso auxiliar do dialecto genovês – professor italiano na Universidade de Coimbra; Doris Fabris-Bucheli – guia do Hotel da Lapa em Lisboa; João Cruz Alves e António Silvestre – guardiães dos portões que ocultam os mistérios da Quinta da Regaleira, em Sintra; Mário Oliveira e Conceição Trigo – médicos cardiologistas, do Hospital de Santa Marta, em Lisboa; Miguel Palha – médico e fundador da Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21.

Para aguçar o apetite da leitura, partilho parte da minha correspondência com o José Rodrigues dos Santos, em Julho de 2007. O tema da correspondência versa sobre o primeiro livro das aventuras do Professor Tomás Noronha, o «CODEX 632», nomeadamente a parte da História dos Descobrimentos. Divulgo-a porque, a meu ver não desvenda o desfecho do enredo e não lesa o encanto da sua posterior leitura.

«Caro José Rodrigues dos Santos,
Antes de mais gostaria de felicitá-lo pelo magnífico romance CODEX 632, é absolutamente fantástico, muitíssimos parabéns. Sou um amante da história em geral, mas, da portuguesa em particular, apesar da minha área profissional não ter qualquer relação com o tema, pois, sou profissional em tecnologias de informação.
Como não sou nenhum especialista em história, gostaria de separar a ficção do real e, há situações que estão no CODEX 632 que não sei se são ficção ou reais. Por isso gostaria de colocar algumas questões:
  1. É verdade que Cristóvão Colombo estava implicado na trama do atentado contra o rei D. João II?
  2. É verdade que o rei D. João II já sabia da existência das Américas antes de Colombo?
  3. É verdade que o rei D. João II “ajudou” Colombo na descoberta do Mundo Novo, de forma a iludir os Reis Católicos (com o tratado de Tordesilhas) e deixar o caminho livre à coroa portuguesa para a exploração do caminho marítimo para a Índia pela costa africana?
  4. É verdade que o Colombo Genovês era um tecelão de seda sem instrução e que nunca escreveu em genovês?
  5. É verdade que muitos documentos portugueses foram levados para o Rio de Janeiro quando Portugal foi alvo das Invasões Francesas de Bonaparte, e que nunca mais regressaram a Portugal?
  6. É verdade que Colombo embarcou na sua primeira viagem no último dia de expulsão dos judeus em Espanha?
  7. No seu livro dá a entender que Rui de Pina entabulou contactos com os Reis Católicos para estabelecerem o Tratado de Tordesilhas, mas eu julgava que esse embaixador fosse Rui (ou Rodrigo) Sousa. Serão a mesma pessoa ou o que vem no CODEX 632 é ficção?
  8. Cuba do Alentejo tem alguma relação com a ilha de Cuba (será mesmo a terra de Colombo essa aldeia alentejana)?
  9. Acha que Cristóvão Colombo era português? Quem lê o seu livro fica convencido que sim. Será?
Uma vez mais os meus sinceros parabéns, vou começar a ler a nova aventura do Professor Tomás Noronha, ou seja, a “Fórmula de Deus”.
Com muita admiração e estima,
José Manuel Trindade Gomes»

A resposta do José Rodrigues dos Santos.

«Caro José Gomes, muito obrigado pelo seu amável e-mail.
Peço desculpa pelo atraso na minha resposta, atraso que se deveu ao facto de me ter encontrado de férias.
Ainda bem que gostou do romance. Quanto às suas perguntas, umas remetem para respostas não provadas mas possíveis/plausíveis/prováveis (pelos motivos explicados no romance); nestes casos escreverei "é uma hipótese". Outras remetem para factos inquestionáveis; nestes casos, responderei "é um facto":
  1. É verdade que Cristóvão Colombo estava implicado na trama do atentado contra o rei D. João II?
    R. É uma hipótese.
  2. É verdade que o rei D. João II já sabia da existência das Américas antes de Colombo?
    R. É uma hipótese.
  3. É verdade que o rei D. João II "ajudou" Colombo na descoberta do Mundo Novo, de forma a iludir os Reis Católicos (com o tratado de Tordesilhas) e deixar o caminho livre à coroa portuguesa para a exploração do caminho marítimo para a Índia pela costa africana?
    R. É uma hipótese.
  4. É verdade que o Colombo Genovês era um tecelão de seda sem instrução e que nunca escreveu em genovês?
    R. São dois factos. Colom escrevia apenas em castelhano aportuguesado ou em latim, nunca usando palavras italianas ou genovesas. Até nas cartas para genoveses escrevia em castelhano!
  5. É verdade que muitos documentos portugueses foram levados para o Rio de Janeiro quando Portugal foi alvo das Invasões Francesas de Bonaparte, e que nunca mais regressaram a Portugal?
    R. É um facto.
  6. É verdade que Colombo embarcou na sua primeira viagem no último dia de expulsão dos judeus em Espanha?
    R. É um facto.
  7. No seu livro dá a entender que Rui de Pina entabulou contactos com os Reis Católicos para estabelecerem o Tratado de Tordesilhas, mas eu julgava que esse embaixador fosse Rui (ou Rodrigo) Sousa. Serão a mesma pessoa ou o que vem no CODEX 632 é ficção?
    R. Ruy de Pina esteve nas negociações de Tordesilhas, mas julgo que não é Rodrigo de Sousa. D. João II não enviou apenas uma pessoa para negociar o tratado - enviou uma comitiva, na qual se incluía Ruy de Pina.
  8. Cuba do Alentejo tem alguma relação com a ilha de Cuba (será mesmo a terra de Colombo essa aldeia alentejana)?
    R. É uma hipótese.
  9. Acha que Cristóvão Colombo era português? Quem lê o seu livro fica convencido que sim. Será? R. É uma hipótese.
Um abraço do José Rodrigues dos Santos»

Hoc non est opus unius diei nec ludus parvulorum [Thomas] – Não é isto obra de um dia, nem brinquedo de crianças.

Lisboa, 23 de Novembro de 2007

1 comentário:

  1. Quando leres "A filha do capitão" deste mesmo autor, vais ter uma agradavel surpresa!!!
    ...Aconcelho-te vivamente.
    ...mas também eu ainda não li nada do J.R.S. que não tenho adorado...

    Miguel Castro

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