segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Cooperação estratégica

Desde as últimas eleições presidenciais ganhas por Cavaco Silva em 2006 que se vulgarizou a expressão «Cooperação Estratégica» do Presidente da República em relação ao Governo. Aliás, esta frase é da autoria do próprio Cavaco Silva e foi uma bandeira na sua campanha eleitoral de 2006.

Publiquei a crónica «Divórcio entre Cavaco e Sócrates», em que comentei o absurdo que enchia blogues, jornais e noticiários sobre o «casamento de Sócrates com Cavaco», e a sua sintonia política com o Governo. Os visionários cronistas propagavam que havia uma liderança bicéfala; que Cavaco Silva poderia ter a veleidade de subverter o regime político, por ser um tecnocrata, não se limitaria a presidir, mas antes a governar o país em convénio com José Sócrates.
Mais de um ano sobre o vento do “casamento”; vem agora anunciado pelos mesmos eruditos o agoiro do “divórcio”. A «Cooperação Estratégica» corre perigo de fenecer a curto prazo, provocando uma crise institucional entre Cavaco e Sócrates.
Mas, afinal o que significa «Cooperação Estratégica»?
Esta expressão significa simplesmente que Cavaco Silva não vai exercer o seu cargo e os poderes que a Constituição da República lhe consagra para fazer oposição ao Governo. A oposição ao Governo tem de ser exercida no hemiciclo da Assembleia da Republica através dos partidos da oposição. Quem não se lembra da tenaz oposição preconizada por Mário Soares, então Presidente da República, a Cavaco Silva durante os dez anos em que exerceu o cargo de primeiro-ministro? No consulado da presidência de Mário Soares, quem não se recorda das presidências abertas, do “direito à indignação”, das suas criticas em relação ao Partido Socialista por ser brando na oposição? Se calhar alguns já se não recordam da expressão “forças de bloqueio”, proferidas por Cavaco Silva em relação a Mário Soares. Portanto, desenganem-se aqueles que julgam que Cavaco vai obstruir a acção do Governo; o que não é o mesmo de vetar todos os diplomas. Cavaco veta e promulga não contra o Governo, não contra ou a favor de Sócrates mas, para o melhor modelo de desenvolvimento da sociedade, segundo as suas convicções.

Os nossos eruditos comentadores acharam logo uma explicação muito mais ilustre. Ora, como as idiossincrasias de Cavaco e Sócrates são idênticas, há dois cenários possíveis: ou Cavaco tentaria governar o país através dos seus poderes presidenciais; ou estaria totalmente de acordo com as políticas reformistas do Governo dando todo o seu apoio institucional. Quando me refiro aos comentadores da praça, refiro-me também a uma espécie de políticos que tiveram ou continuam a ter ambições políticas, portanto, deveriam ser mais diligentes nas suas análises, algumas bem-intencionadas não duvido. Mas, com um conhecimento político – histórico muito superficial. Talvez a cegueira das orientações da cúpula dos partidos turvem a visão do que está mais além, ou então não percebem nada de política, o que é mais preocupante.

Num país tão pequeno como o nosso, todos nós não somos demais para levar avante os novos desafios que um mundo cada vez mais globalizado nos coloca.
Se a religião é o ópio do povo como enfatizou Karl Marx em 1848, as doutrinas de alguns partidos são o ópio dos pseudo-intelectuais.

Frustra legit, qui non intellegit – Lê em vão quem não compreende.

Lisboa, 19 de Setembro de 2008

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