segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A arbitrariedade das 3200 casas na CML

É assombroso o mais recente escândalo político na CML – Câmara Municipal Lisboa –, onde veio a público a notícia da atribuição discricionária de 3200 casas aos apêndices do poder político como: artistas, jornalistas, escritores, funcionários, amigos e filhos dos funcionários, etc. Apesar de não ser uma novidade na nata municipal lisboeta, não deixa de ser vergonhoso a forma como alguns dos beneficiários se justificaram perante a opinião pública.
A vereadora da habitação, que beneficiou da atribuição de casa pela CML não se sente diminuída na sua actual função (responsável pelo pelouro); um director de serviços da CML foi-lhe atribuída uma casa quando se divorciou, agora, que está novamente casado e tem outra residência, mantém a casa para salvaguardar o seu futuro – não vá os amores trazer-lhe dissabores. Enfim, há centenas de sanguessugas despudoradas embutidas no sistema autárquico que têm benesses à conta do erário público. Há muito tempo que o Pacheco Pereira vem denunciando pequenos grandes poderes nas entranhas dos partidos a nível regional e municipal.

Afinal, para que serve o pecúlio de 3200 casas na posse da CML se não for para beneficência? O ano passado, critiquei firmemente a posição de António Costa quando este ameaçou bater com a porta caso não fosse aprovado um empréstimo de 500 milhões de euros, aliás, escrevi uma crónica «Chantagem na Câmara Municipal de Lisboa», em que defendi a alienação de património. Achei uma prosápia a posição do Zé Sá Fernandes a denunciar a desgraça caso o empréstimo não fosse aprovado.

Não deixa de ser surpreende o mutismo do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Português em relação a este escândalo. Zé Sá Fernandes andou aos urros na comunicação social como um fanático sobre as obras do túnel do Marquês. Apenas descansou quando conseguiu embargar a obra, uma brincadeira que custou aos lisboetas quase 5 milhões de euros. E agora? Por onde andas tu Zé?
Mas, a verdade é esta: se a CML vendesse este património que apenas se destina ao préstimo de favores, em troca de outros benefícios renderia no mínimo a preço de saldo, cerca 400 milhões de euros. Seria mesmo necessário o tal empréstimo?

Mas o caso que deu mais bramido foi o do escritor e jornalista Baptista Bastos (BB). Após 32 anos a viver em péssimas condições em Alfama, pois chovia dentro de casa, e estando desempregado – exploração capitalista –, conseguiu um insignificante favor do poder autárquico para uma “casinha” com melhores condições. Como pode um escritor estar desempregado, quando editou obras nos anos de 1962, 1963, 1965, 1969, 1969, 1972, 1974, 1977, 1981, 1981, 1984, 1987, 1991, 1995, 1999, 2000, 2001, 2002, 2007, 2008? Baptista Bastos é dos jornalistas mais exasperados quando alude à ética, moral, liberdade e isenção na sua crónica habitual à quarta-feira no Diário de Notícias. É o evangelizador do pudor na praça pública. Como é possível justificar-se no «tribunal» onde é juiz, de que não fez nada de ilegal? Claro que não fez nada de ilegal, mas deve favores ao poder político. Beneficiou de uma casa sem estar sujeita a concurso público e, por isso, interdito ao comum dos cidadãos. Como pode pois ser livre?

É caso para questionar o Baptista Bastos: onde vivias tu no 25 de Abril?

Ubi nullus pudor, ibi nulla honestas – Onde não há nenhum pudor, não há nenhuma dignidade.

Lisboa, 07 de Outubro de 2008

1 comentário:

  1. Deve saber que um escritor em portugal ganha fortunas. O BB está rico, tal como o falecido Luís Pacheco, que acabou num asilo!!! Além disso,quando ele diz desempregado é do jornalismo, através de sucessivas purgas políticas. Eu conheço-o superficialmente, pois sou de Alfama. O seu carácter é grande, pois ele não escreve o que eu vou escrever:o predio estava em pré-ruína e ele e a família foram os últimos a sair. Todos os inquilinos foram realojados, não foi só ele.Na Rua onde ele residia foram dezenas de famílias realojadas, porque a Câmara nunca fez obras. Se ele estivesse a viver lá, ou eventualmente morto, provavelmente não ligava. A outra questão ´eque curiosamente ele foi dos mais críticos em relação ao João Soares, e foi na presidência dele que o BB foi realojado: é no mínimo paradoxal, ou o poder político é masoquista, ou então não existem aqui pequnos favores nenhuns, se ele tivesse feito favores teria uma casa p rória num condomínio privado qualquer, como alguns colegas seus e não uma casa arrendada pela autarquia!...Tenham mas é juízo e não ajuízem! Eu não faço presunções: limito-me a analizar factos.
    Alcides correia

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