segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Efeméride

Uma efeméride traz-nos à memória um acontecimento proeminente do passado: morte ou nascimento duma personalidade pública; morte ou nascimento de alguém que nos é próximo; uma descoberta científica; alterações políticas; guerras, batalhas, revoltas, genocídios, catástrofes naturais, etc. Eventos que definam ou redefinam novos rumos dum povo, duma sociedade ou da Humanidade; ou algum outro acontecimento que pelo seu impacto, pela sua importância nos merece ser recordado.

Faz hoje, – 11 de Setembro de 2007 – precisamente 6 anos, que ocorreram os abjectos, ignominiáveis e pusilânimes atentados aos Estados Unidos da América, no World Trade Center e no Pentágono, supostamente executados pela organização terrorista Al Quaeda, liderada pelo Osama Bin Laden, e que são de todo reprováveis e ascorosos.

Julgo que os atentados chocaram o mundo por três motivos:
  1. A narrativa dos acontecimentos foi visualizada em directo e, no próprio local - In loco. Dando por isso, uma dimensão planetária da hecatombe.
  2. A incapacidade do país mais poderoso do mundo, os Estados Unidos América, em travar um ataque terrorista, urdido dentro do seu próprio país, debaixo das suas barbas.
  3. Um sentimento de medo e insegurança, que pulverizou todo o mundo Ocidental, assim como, o alerta mundial para uma nova vaga de terrorismo.

Hoje de manhã, a caminho do local de trabalho, ouvi algumas rádios e, naturalmente, a abertura dos noticiários aludiu à efeméride dos atentados do dia 11 de Setembro de 2001. E, com toda a justiça, porque a tétrica efeméride, não deve ser esquecida mas antes lembrada.

O alemão Karl Marx teorizava no opúsculo do “Manifesto Comunista”, que a história da Humanidade era a luta de classes: " (...) A história de toda a sociedade até hoje é a história da luta de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, burguês da corporação e oficial, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em constante antagonismo entre si, travaram uma luta ininterrupta, umas vezes oculta, aberta, outras, uma luta que acabou sempre com uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou com o declínio comum das classes em luta."
Será mesmo assim?

Penso que não. Mas, quem escreveu muito bem sobre Karl Marx, foi Heiner Muller que considera o seguinte: “Na União Soviética e na República Democrata Alemã, empreendeu-se uma tentativa em larga escala para refutar Marx. A tentativa fracassou".
E, a luta de religiões, não será outro dos motores da história da Humanidade?

Na minha opinião sim. Afinal, o que foram as invasões islâmicas na Península Ibérica?
O que foram as guerras, invocadas pelos Prelados contra o islamismo?
O que foi o grande desígnio dos descobrimentos senão a expansão da cristandade?

A História das sociedades não se confeccionam apenas de vitórias, de actos heróicos, de vernáculos ilustres, também são feitas de derrotas, de barbaridades, atrocidades contra o Homem. Os acontecimentos que modelam a História, que vincam a memória da Humanidade, dum país, não devem ser proscritos. Devem antes ser assinalados. Em Portugal não temos esse hábito, assinalamos os feitos gloriosos e os outros depositamo-los no obscurantismo.
No dia 19 de Abril de 2006, para espanto meu, assisti ao total desdém dos meios de informação nacionais, sobre o que se passara há precisamente quinhentos anos, cinco séculos. Ao contrário, por exemplo, em 1998, comemorou-se com grande solenidade os quinhentos anos da viagem de Vasco da Gama à Índia e, com todo o mérito.

Em Portugal, no dia 19 de Abril de 1506, foram violados, torturados chacinados aproximadamente três mil judeus em Lisboa, no reinado de D. Manuel I. Foram massacrados, porque professavam outra religião e, os que não morreram foram convertidos à força ao cristianismo, com a denominação de cristão-novo. O único monarca em todo o mundo que tem um estilo arquitectónico associado ao seu nome, o “manuelino”, que ficou conhecido pelo epíteto do “Venturoso”, é o mesmo que perpetrou tão ignóbil genocídio.

Lisboa, 11 de Setembro de 2007

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