segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Insegurança ou sofisma?

No debate quinzenal da passada quarta-feira o tema da insegurança voltou a ser debatido com toda obstinação na Assembleia da República. Este ano quer me parecer que a duração da Silly Season é mais duradoira.

Durante o Verão que agora findou, Portugal atravessou um período agitado no que à segurança dos cidadãos – ou falta dela – diz respeito. Somos diariamente emprenhados por notícias de assaltos à mão armada a bancos, gasolineiras, carjacking, rixas entre diferentes raças, assassinatos sumários, etc. Pela avaliação do que tem sido noticiado o país esteve (está!) à beira do caos, será verdade?

Todos nós somos objecto de manipulação dos órgãos de informação, os mídia pervertem a informação para manipular as massas, mesmo que inadvertidamente, mas é assim. Nem mesmo os que se advogam “intelectuais” se livram deste anátema. Eu não sou jornalista, mas é evidente que o paradigma de informação tem vindo ao longo dos tempos a ser adulterada, o que ontem era notícia, hoje já não é: um bom exemplo tem sido a troca de argumentos do que é serviço público ou não. Discussão essa que continua sem conclusão. A disputa pelas audiências entre vários órgãos de informação, mesmo nos noticiários, levou à mediatização da informação, ao espectáculo – notícia.

Atiram-se notícias para primeiras páginas de jornais e aberturas de noticiários de acontecimentos comezinhos: «assaltaram um velhote à saída de um banco, o larápio roubou 300 € e pôs-se em fuga…»; «tentaram assaltar uma gasolineira no cú de Judas…»; etc.,. Há uns anos atrás, aliás, ainda hoje, qualquer pessoa que leia o «Correio da Manhã» por exemplo, verifica diariamente este tipo de notícias, sempre foi assim.

A novidade não é a notícia, a novidade é em que espaço e por quem é noticiada. Há uns anos atrás havia vários tipos de jornais: o «Correio da Manhã» era o jornal do povo, das massas; o «Crime» e o «24 horas» eram a literatura dos saloios; o «Diário Noticias» para o pseudo-burguês; e alguns jornais de referência que fugiam um pouco à banalidade da mediatização como o «Expresso», ou o «Público», mais idóneos. Acontece porém, que estes últimos passaram a editar as notícias de «24 horas» e «Correio da Manhã», o mesmo se passa nas rádios e nas televisões: no fundo é uma luta desenfreada na captação de público. Não quero com isto negar que não haja violência, nada disso. É claro que há, sempre houve e sempre há-de haver.

O caso da Madeleine McCann é um bom exemplo da manipulação da informação, da procura da notícia a fim de sustentar um espectáculo. Durante as semanas seguintes toda a informação – que é diferente de notícia – relacionada com raptos ou desaparecimento de crianças, enchiam imediatamente sem critério, as aberturas dos telejornais. Deixou de haver raptos?

Outro caso mais recente. O acto de indisciplina de uma aluna na escola secundária Carolina Michaelis no Porto, em que arrebatou à força o telemóvel confiscado pela sua professora. Durante semanas a fio não havia um só único dia em que não surgissem notícias de actos de violência, indisciplina nas escolas. E agora? Os alunos das nossas escolas passaram de selvagens a imaculados? Já mão há casos de indisciplina nas escolas?

Se é verdade que a criminalidade aumentou em relação ao ano passado, também não deixa de ser verdade que os dados do ano passado foram os mais baixos dos últimos sete anos. Se há funções inalienáveis por parte de um Estado é a segurança. A segurança é um dos pilares dos estados modernos. O passado mostra-nos como a insegurança pode levar a convulsões gravíssimas e incontroláveis. A insegurança não vem da rua, vem dos sofismas da informação.

Quid portas novi? [Séneca] – Que notícias trazes?

Sintra, 25 de Setembro de 2008

Sem comentários:

Enviar um comentário