sábado, 22 de janeiro de 2011

Presidenciais 2011 e Triste Alegre

Muitos jornalistas e comentadores políticos afirmam (talvez com razão) que esta campanha foi a mais fraca desde o 25 de Abril, certamente não vai deixar marca nem saudades a nenhum português.
Personalidades com peso político aguardam que os presidentes em funções cumpram o seu segundo mandato para se candidatarem, essas sim, são campanhas muito mais interessantes tanto do ponto de vista do discurso e do programa político, como na qualidade dos candidatos ao mais alto cargo da nação. Por isso, considero um tremendo erro a recandidatura de Manuel Alegre.

A nossa História recente diz-nos que em democracia os presidentes da república são sempre reeleitos, e conseguem mais votos do que na primeira eleição. Foi assim com Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio e, portanto, vai ser assim amanhã com Cavaco Silva sem necessidade de recorrer à segunda volta. Isto acontece porque os Portugueses apreciam a estabilidade política, e sabem que o Presidente da República não governa, é uma referência, um pêndulo do sistema político, que pode, em situações extraordinárias dissolver o Parlamento e demitir o Governo. Além disso, o Presidente da Republica é um cargo unipessoal, suprapartidário, portanto, não faz muito sentido os partidos insistirem na colocação dos seus candidatos, da sua cor política.

Manuel Alegre afirmou inúmeras vezes (porque será?) nesta campanha “não estou refém de nenhum partido político. Eu penso pela minha própria cabeça.”
Pois pensa, mas pensa muito mal, e claro que esteve sempre refém de José Sócrates, Francisco Louça e, acima de tudo da sua incúria política. É neste ponto que verifico que os comentadores políticos andam muito distraídos, ou não têm nenhuma memória política, limitam-se a reproduzir frases feitas não cuidando de pensar no seu significado. Mas adiante.

Manuel Alegre detesta José Sócrates, esse ódio político ficou bem patente nas últimas eleições à liderança do Partido Socialista em que os dois juntamente com João Soares disputaram a liderança do Partido. Ora, a verdade é que Alegre nunca se resignou ter perdido essa liderança para José Sócrates, logo de seguida, o seu inimigo chegou a primeiro-ministro numa ascensão meteórica obtendo a primeira maioria absoluta do Partido Socialista, feito que nem Mário Soares alcançou.
Esse mau estar entre os dois perpassou para a Assembleia da Republica, por isso, o Partido Socialista e José Sócrates apoiou Mário Soares e não Manuel Alegre para as presidenciais de 2006. Como todos sabem, Alegre ficou em segundo lugar muito à frente de Mário Soares, com cerca de um milhão de votos. É exactamente neste ponto que Manuel Alegre fez uma ideia errónea e abusiva dos votos que obteve nas presidenciais: tenho afirmado por diversas vezes que cada eleição vale o que vale, é única, por isso, os votos obtidos em cada eleição têm somente o propósito disso mesmo. É um erro grosseiro pensar-se que se é dono dos votos. Durante muito tempo Manuel Alegre sentia que um milhão de votos lhe davam legitimidade para fazer oposição ao Governo de José Sócrates, tanto no Parlamento votando propostas em sentido contrário às do Partido Socialista, como atacando José Sócrates na praça pública ou, exteriorizando apoio ao Bloco de Esquerda de Francisco Louça. Portanto, andou anos a bater nas canelas do primeiro-ministro.

José Sócrates chega ao final da primeira legislatura ferido de morte. Diminuído politicamente face aos múltiplos escândalos em que se viu envolvido (os projectos das casas da Beira, Freeport, Face Oculta, licenciatura, apartamento de Lisboa, etc.), atemorizou-se com Manuel Alegre e a troco do apoio do Partido Socialista (não do seu) à sua candidatura para estas presidenciais colheu o silêncio de Alegre. Ora, este pacto deixou completamente manietado o candidato poeta. Porque os Portugueses não percebem (e ainda bem) a alteração de comportamento de Alegre nos últimos meses face ao Governo e, até mesmo ao Bloco de Esquerda.
Obviamente que José Sócrates e a sua equipa governativa não pretende ver alegre na presidência da republica, sabem que seria uma força de bloqueio. Manuel Alegre não tem a probidade de Cavaco Silva, usaria caprichosa e discricionariamente os poderes presidenciais contra José Sócrates e o seu Governo.

José Sócrates geriu com mestria o desastre político de Alegre nestas presidenciais. O estilo populista e trauliteiro do Bloco Esquerda passou para a campanha de alegre, e o resultado só poderia ser calamitoso, porque o apoio do Partido socialista é meramente formal. Na prática, a verdade é que o Partido Socialista tem-se demarcado cada vez mais de Manuel Alegre. Ainda na última semana pessoas próximas de Sócrates têm vindo a terreiro criticar Alegre e, apreciam alegremente a tristeza da sua campanha, a triste campanha de Alegre.

PS – Tenho enorme curiosidade de ver amanhã qual o resultado de Fernando Nobre face a Manuel alegre. Isto é, se consegue ter uma votação superior a Manuel Alegre ou, se obtém uma votação próxima do poeta. No entanto, creio que ficará à sua frente, apesar de nenhuma sondagem substanciar a minha convicção. Mas de uma derrota aguda e triste, Alegre não se livra.

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